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segunda-feira, 26 de julho de 2010

Peritos debatem falhas em investigação sobre Eliza Samudio

Em um Estado onde a Pericia não possui autonomia como é o caso de Minas Gerais, interferências externas acabam por prejudicar a comprovação científica de um delito.
Em São Paulo, onde a Pericia é autônoma, os Peritos puderam trabalhar sem ingerências e os laudos foram conclusivos e possibilitaram a materialidade para a condenação dos pais na menina Isabela Nardoni.
Como se pode ver na matéria anterior, os cães encontrados no sitio do Ex Policia Bola morreram no centro de zoonoses.



Esta semana, o Fantástico ouviu peritos e criminalistas para entender por que a investigação sobre o desaparecimento de Eliza Samudio, ex-amante do goleiro Bruno, não tem avançado. O que a polícia poderia ter feito, e ainda pode fazer, pra finalmente apontar, com certeza, quem são os assassinos?

Acusados que mudam de versão a cada depoimento, outros que ficam em silêncio. Esclarecer o desaparecimento de Eliza Samudio é um desafio, principalmente porque ainda não há vestígios do corpo.

Mesmo assim, a polícia tem uma certeza: o goleiro Bruno mandou matar a ex-amante e sumir com o corpo. Eliza afirmava ter um filho do jogador.

O Fantástico consultou dez pessoas, entre peritos, delegados e advogados, para que comentassem tecnicamente a investigação. Alguns preferiram não gravar entrevista, mas todos têm opinião semelhante a do perito Cássio Almeida Rosa, com 17 anos de carreira e integrante da Associação Brasileira de Criminalística. “Nós temos uma máxima: tempo que passa, verdade que voa”.

Com um mandado de busca e apreensão, a polícia entrou no sítio de Bruno, em Esmeraldas,
Minas Gerais, três dias depois de receber a denúncia do desaparecimento e morte de Eliza.

Quinze dias depois, numa nova ida ao local que teria servido de cativeiro da ex-amante do goleiro, foram encontradas manchas de sangue num colchão, além de fios de cabelo.

“Tendo acesso a um local de crime, que a perícia seja realizada o quanto antes possível. O tempo sempre vai trabalhar contra os resultados que a gente pode obter”, diz Cássio.

O delegado Edson Moreira contesta: “A primeira busca é uma busca periférica, pega tudo. A segunda foi mais detalhada, porque nós já sabíamos o que estávamos buscando”.

Na sexta-feira passada, a polícia informou que o sangue no colchão é de uma mulher, mas não de Eliza. “Não é que houve uma pericia mal feita, o local foi mexido após a primeira busca”, acredita o delegado.

Para o perito Cássio Almeida Rosa, o ideal teria sido isolar os sítios de Bruno e do ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, onde Eliza Samudio foi supostamente morta e esquartejada:

“Talvez até mesmo uma vigilância pra que esse local realmente permanecesse isolado”.

“Gostaria muito que a nossa legislação fosse igual a dos Estados Unidos da América, onde nós podemos ficar com o local até o julgamento final. Aqui, não. Feita a busca e apreensão, terminou, liberou, volta-se ao proprietário”, diz Edson Moreira.

“O juiz de direito pode determinar a lacração de um local por um período de tempo suficiente para que sejam feitas todas as perícias visando a elucidar o fato criminoso”, esclarece o advogado criminalista Mario de Oliveira Filho.

Esta semana, o Fantástico localizou o veterinário Fernando Pinto Pinheiro, que em 13 de julho se ofereceu para examinar os cães do ex-policial. O corpo de Eliza Samudio teria sido jogado a estes animais, que foram apreendidos no dia 7, mas só na quinta-feira passada, peritos analisaram os cachorros. “Esse exame já deveria ter sido feito logo que eles recolheram esses animais”.

No sábado, ao Fantástico, o delegado responsável pelas investigações disse que precisou trazer dos Estados Unidos um material pra fazer o exame. “O luminol é tóxico. Não podíamos por em risco a vida dos cães. Aguardou o material que não é tóxico e tem os mesmo reagentes que o luminol”, explica Edson Moreira.

“Toda perícia falha ou toda falta de perícia dificulta a comprovação da existência do crime e isso favorece uma tese de absolvição”, explica o advogado criminalista Alamiro Velludo Salvador Netto.

Outro advogado criminalista, Tales Castelo Branco, que participou de mais de 500 júris, opina que houve precipitação da polícia ao apontar a culpa do goleiro Bruno logo no início das investigações:

“Uma falha grave. Na medida em que uma autoridade policial dá uma entrevista e diz determinados fatos dificilmente, mesmo que se convença do contrário, vai ter muita dificuldade em se desmentir”.

Para o delegado Edson Moreira, as provas contra Bruno são contundentes. Um exame de DNA comprovou que a mancha de sangue no carro dele é de Eliza. O policial disse que a investigação está em fase final e que o goleiro será indiciado. “Quem tinha o maior motivo pra matar a vitima é ele”.

Para terminar o inquérito, o delegado diz que faltam os resultados de alguns laudos. Um deles está sendo feito no Instituto de Criminalística de São Paulo. Os peritos vão dizer se é de Eliza Samudio o corpo encontrado carbonizado na cidade de Cachoeira Paulista. O resultado deve sair nos próximos dias.

“A probabilidade de ser os restos mortais de Eliza é 0000,1. Só que são coisas que vão retardar o inquérito. Quem escondeu o corpo escondeu bem escondido”, declara Edson Moreira.

Sexta-feira, numa coletiva, o delegado disse não ter dúvida de que Eliza está morta e que o inquérito deve ser concluído no começo do mês que vem.

Nesse caso difícil, sem o corpo da vítima e diante do silêncio dos principais acusados, a ciência criminal ainda pode ajudar, principalmente se algum vestígio for descoberto nos cães do ex-policial.

“O DNA é uma ferramenta extremamente poderosa. Essa é uma grande vantagem. Ele necessita de quantidades mínimas de material pra poder trabalhar e chegar em resultados”, disse Cássio Almeida Rosa.

2 comentários:

  1. Para que uma melhor investigação, a Perícia de Minas Gerais deveria ser autônoma como a Perícia do Estado de São Paulo (Polícia técnico-Científica) para assim possuir autonomia para concluir seus laudos e melhor mostrar para toda a sociedade seu trabalho científico de apurar crimes.

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  2. Caros,

    Acredito que a dominação que os delegados de MG exercem sobre os peritos de lá é grande.
    A associação dos Peritos de lá deve aproveitar a oportunidade dada pela imprensa de esclarecer o que aconteceu e está acontecendo nos locais de crime em que os peritos vão atuar.
    No caso do Bruno a Isto É já fez uma matéria denegrindo o trabalho realizado pelo delegado (falastrão) e dos Peritos que atuaram no caso. Os programas de televisão estão seguindo na mesma linha.
    É hora de mostrar como o nosso trabalho é feito e como uma ingerência atrapalha no resultado alcançado.
    Parafraseando o colega abaixo,

    Força, COLEGAS!

    SDS

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