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quarta-feira, 1 de setembro de 2010
A solidão do Perito Caipira.
No calor de uma multidão em um estadio de futebol 22 homens trabalham para fazer com que uma bola vá ao gol do adversário, alguns jogadores ganham uma fortuna para ficar correndo atrás de uma bola por 90 minutos. No trabalho do Perito Criminal do interior isso também ocorre, porem, as avessas. Na delegacia regional de Bom despacho por exemplo, no vento frio de uma madrugada solitária, um Perito Criminal atende sozinho a 22 cidades simultaneamente no decorrer do seu plantão.
Solitário, as vezes desarmado, as vezes com um velho revolver calibre 38, o Perito de plantão conta muita das vezes com Deus e com a sorte.
O cenário é muito diferente do que é visto nos seriados americanos do tipo CSI.
E lá vai o Perito sentado ao volante do o UNO da Pericia por centenas e centenas de quilômetros por plantão.
Diferentemente da região metropolitana da capital onde as Seções são especializadas, o Perito Caipira atende a tudo que aparece, de homicídio a acidente de trânsito, de constatação de drogas a crime ambiental. Este profissional polivalente, tem ainda de ser digitador e secretário da seção de pericia, atendendo ao publico, pois não há no interior outros funcionários na seção alem dos Peritos.
Pássaro da noite
Noites sem dormir e distanciamento social são problemas enfrentados por muitos destes experts. "O pior são os homicídios envolvendo crianças, mão dá para não sentir aquela dor no coração" afirmou um dos peritos da regional de Bom despacho ao Blog. Sem equipamentos os Peritos tem de examinar os corpos em decomposição contado apenas com uma pomadinha de vic vaporube comprada por eles mesmos na farmácia da esquina e buzuntada sob as narinas.
Mesmo com um trabalho assim, que embrulharia o estomago de muitos, a maioria dos profissionais peritos gostam do que fazem. "Não gosto muito de fazer pericias corriqueiras do tipo avaliação, mas vibro quando nosso laudo é decisivo para colocar na cadeia um latrocida, agente acaba acostumando com a solidão e fica com o coração mais duro" afirma outro perito da regional.
Coração duro mas nem tanto, na semana passada o Perito Experidião Porto foi enviado para fazer uma pericia em um local de ligação clandestina de energia elétrica. Ao chegar ao local, um bairro pobre da Cidade de Bom despacho, Oeste de Minas, Porto se deparou com uma residencia paupérrima onde haviam 8 crianças pequenas. Ao avistar a viatura as crianças foram correndo e logo disseram ao Perito: "moço não prende a mamãe não era só ligou os fios por causa do Chiquinho" . Chiquinho era um dos filhos da dona da casa e portador de necessidades especiais. Ao entrar no local o Perito ficou com os olhos rasos de lagrimas. Porto voltou depois ao local com uma cesta de alimentos e uma quantia para que fosse paga a conta de energia elétrica.
Autonomia
A Pericia Mineira tem lutado muito por melhores recursos e pela autonomia plena, a sociedade não assiste o perito trabalhando como assiste o jogador de futebol, mas uma pericia forte e independente trará a população brasileira o que ela tanto anceia: uma capacidade maior da justiça prevalecer sobre a impunidade.
Quem viver verá.
7 comentários:
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Excelente texto sobre uma realidade que ao mesmo tempo é desconhecida da sociedade brasileira, porém que é fundamental para o bom funcionamento desta mesma sociedade. Vamos torcer para que o PL 60/10 do Governo do
ResponderExcluirEstado de Minas Gerais não vingue e que ataques como este a uma Perícia Criminal autônoma e eficiente possam ser sempre rechaçados, pois eles só servem para manter o estado de impunidade que impera no Brasil.
Muito esclarecedor o artigo, já que a grande mídia só mostra os casos de impacto, como o da menina Isabela, advogada Mércia e goleiro Bruno, por exemplo, cabe aos Peritos divulgar seu trabalho nos meios alternativos, visando mostrar a sociedade a sua importãncia, sendo o resultado final o fazer Justiça.
ResponderExcluirCada Perito, nos rincões dessas Minas Gerias deveria fazer o mesmo, pois o serviço e sua importãncia ainda são totalmente desconhecidos do grande público.
Abraço.
Prezado Sr.
ResponderExcluirSeu texto não observou o outro lado da moeda. A atividade do atleta não se resume a correr atrás da bola somente noventa minutos, é preciso ter muito preparo, persistência, e o mais importante, TALENTO. Como é conhecido por todos a grande maioria, também exercendo sua profissão no interior do país, recebe salário mínimo ou apenas ajuda de custo.
Parabéns pela iniciativa de divulgar seu trabalho e suas aspirações de melhoria, mas cuidado com as comparações, afinal todos merecemos respeito.
Grande Perito Criminal e Vereador Experidião Porto. Esse texto foi bastante realístico sobre nossa profissão. Achei uma comparação excelente essa sua. Ao contrário do que foi comentado anteriormente, não o vi desrespeitando o atleta, em especial o jogador de futebol. Parabéns pela iniciativa e pelo seu trabalho, que é bastante elogiado pelos nossos colegas. Forte abraço e sucesso! Daniel - Unaí/MG
ResponderExcluirContemplando as palavras do colega mineiro, percebo que o Perito Caipira Paulista não é diferente do mineiro. Creio que esse é a situação de toda a "Perícia Caipira Nacional".
ResponderExcluirSaudações periciais,
Ola gostei da reportagem pois esta frisando bem o trabalho dos peritos,
ResponderExcluirum trabalho muito serio e esforçado, q tem de ter folego para faze lo dependendo de alguns casos.
PARABÉNS!!!!
PELO SEU TRABALHO!!!!
Experidão Porto, bom dia!
ResponderExcluirParabens pela reportagem! Digna de reflexões.
Não permitir que as atrocidades provocadas pelo "homem" no dia dia de trabalho duro, endureça nosso coração não é uma tarefa facil. Sua sensibilidade notavelmente preservada e sua dignidade ao redigir essas linhas mostra seu esfoço e zelo pela profissao exercida.
Karoline - Estudante de Psicologia