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sábado, 20 de agosto de 2011

Casarão em Pompéu homenageia "Dama do Sertão"


Imóvel reconstruído nos moldes do original, datado de 1871, vai abrigar centro cultural com espaço para palestras e exposições

Publicação: 19/08/2011 06:00 Atualização: 19/08/2011 06:29

Obras do prédio demoraram quase dois anos e, agora, moradores terão mais um espaço para a cultura (Beto Novaes/EM/D.A Press)
Obras do prédio demoraram quase dois anos e, agora, moradores terão mais um
espaço para a cultura

Pompéu – A história de uma das mulheres mais influentes das Gerais, na segunda metade do século 18 e início do 19, ganha, amanhã, um marco para se manter viva e se tornar mais conhecida pelos brasileiros, além de valorizar a Região Centro-Oeste do estado. Com uma festa na cidade localizada a 181quilômetros de Belo Horizonte, será inaugurada às 17h o Centro Cultural Dona Joaquina do Pompéu, misto de museu, anfiteatro e área administrativa, que guarda objetos pertencentes à chamada Dama do Sertão, batizada Joaquina Bernarda da Silva de Abreu Castelo Branco Souto Mayor de Oliveira Campos (1752-1824). Conforme as pesquisas, a mineira natural de Mariana era valente, empreendedora e grande criadora de gado, destacando-se pelo fornecimento de alimentos para a corte portuguesa tão logo dom João VI (1767-1826) desembarcou no Rio de Janeiro em 8 de março de 1808.

O casarão de dois pavimentos e pintado de azul e branco, que a partir de agora vai abrigar a memória e se tornar referência cultural em Pompéu, está reluzindo de tão novo, principalmente nestes dias claros e ensolarados. Mas se engana quem imaginar a construção como simples cópia das propriedades rurais coloniais. Nada disso. Ela data de 1871 e foi erguida pelo bisneto de dona Joaquina Antônio Cândido de Campos Cordeiro nas terras da antepassada ilustre – a Fazenda do Laranjo, perto do Rio Paraopeba. O prédio com 18 janelas e cercado de varandas, ainda sem tombamento municipal, esteve prestes a desaparecer do mapa devido à construção de uma represa para a Usina Hidrelétrica de Retiro Baixo.

O patrimônio foi salvo da destruição e de ficar sob as águas graças a um acordo judicial firmado em 2008, dentro de ação civil pública proposta pelo Ministério Público Estadual (MPE) com um consórcio formado pelas empresas Orteng e Arcadis Logo, que se comprometeram a desmontar toda a fazenda, então a 60 quilômetros do Centro de Pompéu, e reconstruí-la, tal como era, externa e internamente, na cidade. A operação foi toda bancada pelo consórcio e custou R$ 2,3 milhões, ficando o complexo cultural no domínio da prefeitura local. “Hoje ela poderia estar a seis metros de profundidade”, ressalta o diretor do centro cultural, vinculado à Secretaria Municipal de Cultura e Desportos, Hugo de Castro, um dos 80 mil descendentes de dona Joaquina espalhados Brasil afora e documentados em livro. O cumprimento do acordo foi acompanhado pela Coordenadoria das Promotorias de Justiça de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico (CPPC/MG).

Dentro do centro serão expostos objetos como o oratório diante do qual dona Joaquina rezava (Beto Novaes/EM/D.A Press)
Dentro do centro serão expostos objetos como o oratório
 diante do qual dona Joaquina rezava
Durante toda a semana, o movimento foi intenso no centro cultural, circundado por piso de pedras originais, o lajeado, amplo gramado no fundo, com mudas de aroeira, cedro e jequitibá, e um anfiteatro construído com a madeira do curral da fazenda primitiva. “Acreditamos que este local será um divisor de águas na cultura de Pompéu, com atividades para os moradores, palestras, exposições e divulgação da nossa história”, conta Castro. No interior do casarão, foi mantida, aparente, uma parede de pau a pique para os visitantes terem ideia do sistema construtivo do século 19, uma escada, bem como vigas, barrotes e outras peças de madeira centenárias.


Espadas e bengalas
Dentro das normas de acessibilidade e contando até com elevador, o casarão vai abrigar o Museu da Cidade, incluindo mobiliário, objetos domésticos, cálice, fotografias, bengala com cabo de bronze, espadas do filho e neto da matriarca, oratórios diante dos quais dona Joaquina rezou e outros pequenos tesouros. No período de obras de transferência da fazenda, com duração de menos de dois anos, foi feito também um trabalho de escavação no terreno da antiga fazenda. O resultado está em vitrines contendo fragmentos de porcelana, e ainda ferramentas, ferraduras, fivelas de cintos, tesouras etc. Na varanda da frente, chama a atenção um banco de sete metros de comprimento, réplica em ipê do existente em outra propriedade rural de dona Joaquina.


“A comunidade teve grande participação na montagem do acervo. Recebemos muitas doações, como os oratórios, e empréstimos de peças”, conta o diretor com orgulho. Ele explica que o primeiro andar do prédio será espaço de exposições, complementado pelo charme de um café. Já o segundo pavimento será dedicado à memória da matriarca, que tem a vida ainda envolta em lendas e números superlativos, já que seria dona de cerca de 1 mil escravos e de terras do tamanho da Holanda, Bélgica e Luxemburgo. “Esta será também uma ótima oportunidade para que a vida de dona Joaquina, que terá comemorados, em 2012, 260 anos de nascimento, seja estudada a fundo”, espera o diretor. Hugo adianta que até o fim do ano o conjunto será oficialmente tombado.
A cerimônia de inauguração contará com a presença de dom Bertrand de Orleans e Bragança, segundo na linha de sucessão do trono brasileiro, e autoridades.

Pés em dois mundos


Quadro de Yara Tupynambá retrata dona Joaquina com um pé calçado e outro descalço (Beto Novaes/EM/D.A Press)
Quadro de Yara Tupynambá retrata dona Joaquina com
 um pé calçado e outro descalço
No salão nobre da Câmara Municipal de Pompéu, há um quadro de autoria de Yara Tupynambá, de 1998, que retrata a figura empreendedora e determinada de dona Joaquina do Pompéu. O curioso é que ela está com os pés em dois mundos: um calçado, que simbolizaria as suas ligações com a corte, e outro descalço, mostrando ser uma legítima “dama do sertão”. Joaquina Bernarda era filha do português Jorge de Abreu Castello Branco , que, depois de ficar viúvo, se ordenou padre. Em 1736, a família se mudou para Pitangui, na Região Centro-Oeste, onde a menina Joaquina, de 12 anos, se casou com o capitão Inácio de Oliveira Campos, neto do bandeirante Antônio Rodrigues Velho, conhecido como Velho da Taipa.  O casal foi morar na Fazenda de Nossa Senhora da Conceição, que pertencera a Antônio Pompeu Taques, primeiro morador da região – o nome da cidade é uma homenagem a ele. Conforme pesquisas, ela teria um patrimônio de “1 milhão de alqueires de terra, 56.932 cabeças de gado, 2.411 juntas de bois carreiros, cerca de 10 mil cavalos e mais de 1 mil escravos”. A sanha empreendedora teria aflorado com a doença do marido, que ficara paralítico, obrigando-a a ficar à frente dos negócios. Além da remessa de 200 cabeças de gado para a corte, ela doou animais para alimentar as tropas na batalha da Independência (1822). Está sepultada em Pompéu.

3 comentários:

  1. Só faltou nesta reportagem a colocação pelo Hugo, de um fato histórico: quem teve a iniciativa de criar o Museu a aproximadamente 10 anos, na primeira Audiência Pública realizada com o Consórcio Retiro Baixo no auditório do Lions Clube de Pompeu,foi o então Prefeito Municipal Francisco Luiz Cordeiro Guimarães.Naquela ocasião,entre os presentes um dos herdeiros,Dr.Ary Castello Branco Filho ficou bastante emocionado com a homenagem... Muita gente presente achou uma loucura ou quase impossível transplantar um casarão tão antigo..(Mais uma Idéia louca do Chico.....)
    Sabe Hugo, você é ainda muito jovem, tem uma grande jornada pela frente...Lembre-se sempre que a História deve ser contada assim, sempre mostrando a verdade. Daqui a cem ou duzentos anos ela deverá ser retratada aos nossos descendentes.Com certeza esta obra ficará para sempre lembrada e sugiro que você localize as atas das Audiências, para que fiquem arquivadas no Museu...Seria muito interessante..Lembrando a todos que minha mensagem está livre de partidarismos. É que, adoro História... ..

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  2. Nâo culpe somente o Hugo, pois os administradores que sucederam o CHICO, demonstram um ódio terrível a este, um exemplo claro, foi quando, da solenidade, que homenageava" Dona Zizinha " dando nome ao campus da Unimontes, não convidaram o Chico para a mesa. Uma aberração. Como diz o anômino acima, a Unimontes, mais uma loucura do Chico. que o atual Prefeito não teve competência para continuar sua expansão. A história um dia, fará Justiça oa grande Prefeito Francisco Luiz Cordeiro Guimarães. Geraldo Eugênio, PT

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  3. Não é ódio não....É inveja...Nenhum deles conseguiu e nem conseguirá fazer o que ele fez..
    Sabidamente a inveja é um dos piores pecados capitais,levando determinadas pessoas a assumirem para sí, obras e ações que outros conseguiram...Tenho até medo....
    Essas pessoas são capazes de tudo pelo poder e pelo dinheiro alheio...

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