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quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Engenharia Legal versus ERRONOMIA


                                                         

Saudações nobre leitor 

Você conhece aqueles clientes que querem comprar pagando o mínimo possível ou que preferem o concorrente com qualidade inferior por questão de centavos?

Saiba que estes clientes estão fazendo ERRONOMIA. Estão estranhando esta palavra? Realmente, ela não existe no nosso vocabulário. Criei neste momento para fazer referência quando comete-se um erro fazendo economia, originando a nova palavra ERRONOMIA.

ERRONOMIA é facilmente observada na prática em uma fachada de um prédio com 20 pavimentos, onde no momento que chega a necessidade de definir e comprar a argamassa colante para o assentamento do referido revestimento, resolve-se comprá-la comparando apenas os preços entre os concorrentes. Pronto, neste momento nasceu a ERRONOMIA.

O cliente com o perfil supracitado poderá até economizar R$1.000,00 no total de 12.000 sacos de 20kg referentes aos 48.000 m² de fachada com revestimento tipo pastilha 5cm x 5cm do edifício supracitado.

Porém, pegue os R$ 1.000,00 economizados e divida por 48.000 m².

Obteve-se uma economia de R$ 0,02 (2 centavos) por metro quadrado.

Pegue os R$ 1.000,00 e divida por 12.000 sacos.

Obteve-se uma economia de R$ 0,08 (8 centavos) por saco.

Economizou?

Negativo.

Com o passar dos anos, 4 anos em média, é muito provável que aquele revestimento dante assentado comece a descolar. A partir desta situação, vamos imaginar o extremo da relação entre aquele revestimento que descolou e a vida de um ser humano, em especial um bebê.
Por que não? 

Levemos em consideração uma situação em que o referido revestimento venha a descolar e com isso inicie uma trajetória em queda livre sem anteparo até permanecer em repouso, porém, infelizmente, este repouso ocorreu sobre a cabeça de um bebê que estava dentro do carrinho tomando o banho de sol matinal.
Pronto, neste momento temos uma vítima fatal.
Temos o fato, o objeto, o nexo causal e a vítima.

Nesse momento entra em cena o Perito Criminal para fazer a referida perícia, tendo como seus objetivos levantar os vestígios, determinar o agente causador daquele acidente (se foi falha de absorção do revestimento, se foi imperícia do operário na hora da execução, se ocorreu omissão da construtora em fornecer treinamentos aos fachadeiros, se foi a argamassa que estava em não conformidade com a norma, se foi a ferramenta "desempenadeira dentada" que estava com mais de 1mm de desgaste dos seus dentes, se foi problema da base "reboco" em não conformidade com a norma), determinar o modus operandi do fato ocorrido, os danos e por fim, o responsável.

Uso o termo responsável, haja vista que o termo culpa tem origem religiosa.
Dado o exposto, entendo que nem exista a necessidade de calcular o prejuízo financeiro, moral e judiciário que aquela construtora terá. Sem contar a perda de uma criança que será para sempre e não tem valor mensurável para sua perda.

Mesmo assim, vamos a um cálculo rápido:
Por baixo, a construtora irá desembolsar em torno de R$ 200.000,00 de indenização por danos morais, sem contar que o diretor da mesma e o engenheiro responsável poderão responder civil e criminalmente.

Agora divida o prejuízo de R$ 200.000,00 por 48.000m² = R$ 4,16/m²

Gastou 20.800% a mais.

Então caro leitor, sua empresa continuará fazendo ERRONOMIA na hora de comprar a argamassa colante para o revestimento da sua próxima fachada?

Se quiser mudar de concepção, segue abaixo algumas dicas para escolher um fornecedor de argamassa:

Na hora de fechar parceria com uma fábrica de argamassa, não compre apenas pelo preço, analise alguns itens abaixo:

  1. Sua forma de fabricação (artesanal  com betoneiras ou automatizada);
  2. Sua reputação no mercado;
  3. Se faz beneficiamento da areia (secagem no forno helicoidal industrial);
  4. Faça visita na fábrica ou peça para o vendedor mostrar slides da fábrica;
  5. Veja se a fábrica oferece treinamento dos fachadeiros antes de iniciar a fachada ou se indica algum profissional para tal situação com experiência;
  6. Peça os laudos das resistências a tração das argamassas;
  7. Pegue amostras nas fábricas dos possíveis fornecedores e levem para empresas especializadas testarem sua resistência a tração com a cura submersa, ao ar e na estufa (o custo de cada ensaio é por volta de R$300,00) principalmente a resistência na situação em que a mesma fica na estufa - cura na estufa (para simular calor da fachada);
  8. Testem as ligas das argamassas na obra, pois tem algumas marcas que são "areosas" e têm pouca liga, tem fábricas que usam aditivos Chineses (não desmerecendo tais aditivos) o problema é que muitos não conseguem uma regularidade em suas características, alterando num mesmo lote as características das argamassas.


Atc,

Leonardo Xavier de Oliveira
Engenheiro Civil
Perito Criminal do Estado da Bahia
Especialisa em Gestão e Política em Segurança Pública
Discente do Curso de Especialização em Segurança do Trabalho
Consultor em fachadas prediais

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