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sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Caçador de bandidos pode ter eleição impugnada.


Coronel Telhada pode ter sua eleição para vereador impugnada

Escrito por Simone de Moraes 01:23:00 09/10/2012
O  Ministério Público Eleitoral de São Paulo (MPE-SP) decidiu pedir a  impugnação do registro da candidatura do vereador eleito Adriano Lopes  Lucinda Telhada, o Coronel Telhada (PSDB), ex-comandante Rota, que se  elegeu domingo pelo Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), com  89.053 votos. O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São  Paulo foi uma das entidades que solicitou providências das autoridades  que determinaram o pedido de impugnação.
Entre  os motivos para pedir providências contra o vereador aos órgãos do  Judiciário e da Segurança Pública estava o fato de Telhada ter utilizado  sua página da internet, com cerca de 70 mil seguidores, para intimidar o  repórter do jornal Folha de S.Paulo, André Camarante, que não somente  se transformou em uma onda de ameaças, como também culminou com sua  saída do país junto com toda a família, com o objetivo de lhe dar  proteção.
Durante  a Campanha Salarial, em uma das rodadas de negociações de Jornais e  Revistas da Capital, a direção do SJSP solicitou diretamente ao  representante da Folha que proporcionasse todo apoio a seu repórter, o  que de fato acabou acontecendo, quando as ameaças chegaram a níveis  insuportáveis
Tudo  começou por causa de uma reportagem de Caramante intitulada “Ex-chefe  da Rota vira político e prega a violência no Facebook”. No texto, o  jornalista denunciava que  Telhada usava sua página no Facebook para  “veicular relatos de supostos confrontos com civis”, e que chamava de  “vagabundos” os supostos praticantes de crimes. Telhada não gostou da  matéria. A partir daquele momento, as ameaças se sucediam através das  redes sociais, blogs e o site da Folha, desde chamá-lo de “péssimo  repórter” até defender a sua execução, com frases como “bala nele”. No  início de setembro, diante das ameaças, ele teve que deixar o país.
Em entrevista à repórter Eliane Brum, da revista Época,  Caramante relata a nova condição de jornalista que não está mais  fisicamente presente na redação, apesar de continuar no exercício da  profissão. Veja alguns trechos da entrevista:
Quando você deixou de trabalhar na redação?
Caramante– Desde o início de setembro. Os advogados do jornal encaminharam às  autoridades uma solicitação de investigação sobre as ameaças. Alterei  completamente minha rotina e minha localização.
Foi difícil?
Caramante– Sou trabalhador desde os 11 anos e não tenho dúvidas quanto à  profissão que escolhi. A decisão de estar fisicamente ausente da redação  não foi nada fácil. Particularmente, via este passo como um sinal de  recuo, um erro do ponto de vista do meu ideal e mesmo de estratégia em  relação a quem tenta enfraquecer o trabalho da imprensa. O que fizemos,  então, foi arquitetar uma ausência que fosse apenas física, com uma  operação que permitisse que seguíssemos em frente. Existem inúmeras  maneiras de fazer reportagem.
Qual foi a reação da sua família e como eles estão vivendo esse momento?
Caramante– Estão todos cientes e bastante atentos. Não é fácil estar ausente,  mas não creio que seria muito melhor estar presente e vivendo com  sombras. Meus filhos percebem a situação incomum que vivem atualmente,  mas ignoram essa história toda. Felizmente, eles sentem-se seguros onde  pai e mãe estão – não importa onde. Minha rede familiar está permeada  pelo estresse, mas ela é muito forte. Sempre foi, desde muito antes de  toda essa situação. Além disso, a corrente formada por colegas de  profissão e entidades daqui e de fora também deixou claro que este não é  um problema só meu. Entidades como Repórteres Sem Fronteiras, Knight  Center of Journalism (vinculado à Universidade do Texas), Sindicato dos  Jornalistas do Estado de São Paulo, Instituto Sou da Paz, movimento  independente Mães de Maio, entre outros, se manifestaram publicamente em  apoio à minha atuação e ao direito de informar”.
Ouvido pelo Portal Terra,  o ex-chefe da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) afirmou que  “desconhece totalmente” a informação do MPE. “Acabei de pesquisar o site  do TRE (Tribunal Regional Eleitoral) e não há nada sobre isso. Não sei  de onde estão tirando essa informação. Isso é mentiroso e tendencioso,  porque a notícia é falsa”, defendeu-se. “Como vou me manifestar a  respeito de uma coisa que não existe”, acrescentou.
Telhada  é estreante em candidaturas nas eleições deste ano. Ele obteve vaga à  vereança paulistana com o slogan de campanha “Uma nova ROTA na política  de São Paulo”. Segundo definiu no início da corrida eleitoral, sua  candidatura é “um voto de lealdade a José Serra (PSDB)”, candidato a  prefeito, que o nomeou comandante da Rota quando era governador do  Estado.
A  direção do Sindicato repudia a atitude do ex-comandante e continua  exigindo providências do governador Geraldo Alckmin e do secretário de  Segurança Pública, Antônio Ferreira Pinto e colocando-se à disposição do  jornalista para qualquer ação civil ou penal.
Na  oportunidade, o Sindicato anunciou que “atitudes como a do coronel  Telhada, que foi comandante da Rota, não fortalecem a democracia no  país, além de intimidar aqueles que estão a serviço da informação. A  atitude do coronel bem lembra um passado recente em que os jornalistas  eram acuados por emitirem suas opiniões”.
Esta é a íntegra do documento encaminhado às autoridades pela direção do Sindicato:
“O  Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo tem,  reiteradamente, encaminhado a Vossa Excelência e a outras autoridades  públicas denúncias e encaminhamentos no sentido de resguardar a  liberdade de imprensa e a integridade física dos profissionais da área  jornalística.
Consideramos  extremamente grave a atitude do ex-comandante da Rota, coronel Paulo  Telhada, candidato a vereador pelo PSDB, de incitar a violência física e  moral contra o repórter André Caramante, do jornal Folha de S. Paulo,  através das redes sociais.
O  jornalista, em matéria veiculada na edição de sábado, 14 de julho de  2012, apenas registrou, em nota para o caderno Cotidiano, fatos  explanados pelo próprio coronel em sua rede social (facebook) tendo,  inclusive, o cuidado de procurar o candidato que, conforme registra o  texto, não atendeu as ligações feitas para seu celular.
O  texto, em momento algum, foi ofensivo ou atacou a honra ou denegriu a  imagem do candidato, não cabendo de forma alguma resposta tão violenta e  absurda por sua parte. Desta forma, esta entidade sindical pede  especial atenção de Vossa Excelência no sentido de acompanhar o  desdobramento do episódio, resguardando a integridade e o direito a  liberdade de imprensa e de expressão do jornalista.
Solicitamos  ainda que a atitude do candidato seja repreendida por não se coadunar  com os princípios da democracia e das instituições políticas a qual  pretende integrar na qualidade de representante do povo”.
Fonte: Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo

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