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sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Corrupção policial em SP sempre existiu, pondera leitor


LEITOR RICARDO SILVA DE SÃO PAULO
Fiquei muito feliz ao ler a entrevista com o secretário da Segurança de São Paulo, Fernando Grella Vieira, promovida pelos jornalistas Afonso Benites e Rogério Pagnan.
Feliz? Por quê? Como assim? O Estado está um caos e você está feliz? Sim, estou feliz, porque essa foi uma das raras vezes em que vi jornalistas baterem repetidamente nas teclas que formam a palavra “corrupção policial”.
Minha breve história: entrei na Polícia Civil do Estado de São Paulo aos 19 anos, cheio de ingenuidade e sonhos em fazer da minha cidade um lugar melhor. Ledo engano. Fui obrigado a pedir exoneração aos 21. Dois anos na polícia que me marcaram muito.
Na Academia de Polícia Civil, que deveria ser chamada de “ilha da fantasia”, vi um cabide de empregos, profissionais extremamente despreparados e sem noções básicas de como exercer sua função. Uma estrutura sucateada e vergonhosa. Mas até aí eu fui convencido de que tudo valia a pena.
Formei-me na Academia e fui para as ruas. Eis aqui o choque de realidade. Encontrei delegacias infestadas de corruptos, policiais que exigiam dinheiro das vítimas para que elas pudessem fazer um simples boletim de ocorrência. Chefia de investigadores que extorquiam traficantes. Delegados famosos, que insistem em aparecer na televisão, com casas em Miami (EUA), mancomunados com o jogo do bicho, casas de prostituição, sequestradores. Sim, sequestradores. Acreditem, houve uma época em que grande parte dos sequestros no Estado de São Paulo eram perpetrados por policiais.
Moacyr Lopes Junior/Folhapress
O ex-procurador-geral de Justiça e atual secretário da Segurança de São Paulo, Fernando Grella Vieira
O ex-procurador-geral de Justiça e atual secretário da Segurança de São Paulo, Fernando Grella Vieira
Numa abordagem puramente empírica, é impossível sustentar que os policiais honestos são maioria. Não são! Conheci três policiais civis honestos nesses dois anos. O eixo de corrupção atinge a base e a cúpula da polícia. Revoltado, e ameaçado de morte por colegas, pedi exoneração. Mudei de telefone seis vezes em dois anos por causa das ameaças que recebia de policiais.
Costumo dizer que se eu escrevesse um livro sobre as histórias que vivi na polícia, o livro iria ser classificado como ficcional. Ninguém acredita nelas. Lembram-se do escândalo envolvendoLauro Malheiros Neto? A polícia inteira sabia. E, quando veio à tona, explodiu como se fosse uma grande novidade.
Isso me deixava perturbado. A sensação é de que a corrupção era exceção. E não era. Todos sabiam, mas o caso era encarado como surpresa. E aqui está o maior problema: se as pessoas não acreditam, o problema deixa de existir; e se ele deixa de existir, não tem como ser corrigido. Obrigado, Afonso Benites e Rogério Pagnan, por demonstrar que o problema não deixou de existir.

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