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segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Falha na Segurança: Fragilidade no sistema de segurança falta de estrutura e baixo efetivo das Polícias Civil e Federal favorece ao crime organizado.

Triângulo se torna principal rota do tráfico aéreo de cocaína 


Cinco toneladas de pasta-base do entorpecente foram apreendidas pela Polícia Federal desde 2012


Em meio a um canavial na zona rural de Indianópolis, no Triângulo Mineiro, policiais federais esperam o pouso de duas aeronaves com 1 tonelada de pasta-base de cocaína vinda do Paraguai. O primeiro avião pousa, descarrega e decola em seguida. Na aterrissagem do segundo avião, os agentes fazem a abordagem e são surpreendidos pelo piloto que, na tentativa de fugir, joga o monomotor contra os policiais. Eles disparam, matam o piloto e prendem outras cinco pessoas.  A operação ocorreu em março deste ano, representou uma das maiores apreensões de drogas da história em Minas Gerais e foi a confirmação de que o Triângulo Mineiro se transformou na principal rota aérea de entrada de cocaína no país.

Desde 2012, já foram 5 toneladas de pasta-base apreendidas na região pela Polícia Federal (PF), em seis operações como as de Indianópolis. Porém, a estimativa da própria PF é de que as apreensões representem apenas a ponta de um esquema de tráfico internacional que tem mobilizado quadrilhas diversas na região. “Segundo os levantamentos nossos, com base nos relatos de fazendeiros e trabalhadores rurais, são pelo menos cem pousos de aviões carregados de cocaína realizados por mês aqui no Triângulo”, afirma o chefe da Polícia Federal em Uberlândia, no Triângulo, delegado Carlos Henrique Cotta D’Ângelo. Cada voo transporta, segundo policiais, entre 250 e 500 quilos de pasta-base de cocaína, que pode chegar a US$ 6.000 o quilo aqui no Brasil. Portanto, uma só aeronave pode levar uma carga de até US$ 3 milhões em entorpecentes.
Segundo a PF, essas quadrilhas não vendem a droga, mas funcionam como “empresas de logística”. Elas são contratadas pelos traficantes para trazer o material das fronteiras com o Paraguai e a Bolívia até os grandes centros do país.

A ação desses criminosos é rápida e muito bem treinada. Ao chegar ao Triângulo, os aviões pousam em meio às plantações, em pistas destinadas à aviação agrícola, onde caminhonetes com homens fortemente armados esperam para fazer o descarregamento, que não dura mais do que dez minutos. O avião decola, e a cocaína é distribuída em pequenas quantidades nos veículos e segue para um local seguro de armazenamento. De lá, são redistribuídas para as capitais do país. Cerca de 90% dos entorpecentes vão para São Paulo, e parte deles, para a Europa.

O tráfico aéreo de cocaína não é uma novidade no país, mas ocorria, em sua maioria, no Oeste paulista. A atividade agora invadiu as divisas de Minas, que se tornou o local preferido das quadrilhas. O esquema também começou a tomar o lugar do tráfico rodoviário, por ser mais lucrativo e apresentar menor risco. O endurecimento da fiscalização nas estradas, com a Polícia Rodoviária Federal utilizando scanners de rastreamento, aumentou a chance de uma apreensão.
Chegando de avião, a cocaína é dividida em vários veículos e percorre um trecho rodoviário menor. “Isso reduz muito o risco. Em alguns casos, não conseguimos pegar o avião, mas localizamos caminhonetes com essa droga. Mas a quantidade é menor do que a que chegou”, analisa Carlos Henrique D’Ângelo.

Processo
Varejo
. Um quilo de pasta-base de cocaína produz aproximadamente 900 gramas da droga. Misturada a outras substâncias, obtém-se até 5 quilos de cocaína para venda nas ruas.

Histórico
- Década de 90.
São registrados os primeiros casos de tráfico de cocaína aéreo no Oeste paulista.

- Junho de 2012. Avião cai em Prata, no Triângulo Mineiro, com 200 quilos de pasta-base de cocaína. Piloto e copiloto morrem, e Polícia Federal (PF) intensifica investigações.

- Novembro de 2012. A PF desarticula uma quadrilha de tráfico aéreo no Triângulo e prende sete pessoas, além de 200 quilos de pasta-base.

- 2013. Mais cinco operações são realizadas, e 5 toneladas de pasta- base, apreendidas.
Relevo e pistas são atrativos 

Boas condições para o voo e localização central influenciam na opção de traficantes pelo Triângulo

As mesmas características que propiciaram ao Triângulo Mineiro se tornar umas das referências para o agronegócio do país são as que despertaram o interesse dos traficantes para fazer da região a principal rota área de entrada de cocaína no Brasil.
O relevo plano em um raio de até 200 km é propício para a instalação de grandes fazendas para criação de gado e cultivo de lavouras. Localizado em um ponto com distâncias semelhantes para capitais como São Paulo, Brasília e Belo Horizonte e cortado por duas importantes rodovias federais, o Triângulo se estabeleceu também como local de apoio de empresas transportadoras. Essa infraestrutura ajuda no envio da droga para grandes centros urbanos, onde há a maior demanda por consumo.

A escolha da região como rota do tráfico ainda tem a ver com os modelos de aviões usados pelos criminosos. Das fronteiras do Paraguai e Bolívia até o Triângulo Mineiro, são aproximadamente três horas de voo. Segundo a Polícia Federal (PF), esse é o tempo médio de autonomia de combustível dos monomotores e bimotores usados pelas quadrilhas. Pousar para reabastecimento representa grande risco de ser pego pela polícia.

A estrutura da principal atividade econômica da região, a agricultura, também é usada pelos traficantes. Além de centenas de quilômetros de estradas vicinais, a região conta com outras centenas de pistas abertas pelos fazendeiros, no meio das plantações, para pouso e decolagem de aviões pulverizadores. “Isso possibilita que as quadrilhas utilizem várias pistas para fazer o pouso, fazendo um rodízio na região, o que dificulta as investigações”, detalha o chefe da PF de Uberlândia, delegado Carlos Henrique D’Ângelo.

Na maioria dos vezes, as pistas são utilizadas sem o consentimento dos fazendeiros, mas as investigações já apontaram casos de trabalhadores rurais que são subornados pelas quadrilhas e até de traficante que comprou uma fazenda para fazer de pista clandestina.

Quadrilhas. Outro fator que dificulta o combate a esse crime é que são várias quadrilhas atuando no mesmo ramo. “Prendemos seis grupos, e nenhum tem relação entre si. Isso mostra que não é um crime que tem sido realizado por uma organização criminosa apenas, mas que tem despertado o interesse de vários grupos criminosos”, analisou o delegado. 
Ponto central
Localização.
A maior cidade do Triângulo, Uberlândia, está a 535 km de Belo Horizonte, 592 km de São Paulo e 421 km de Brasília. Essa característica facilita a distribuição da droga pelo país.

Corporação intensifica treino para abordagem a aeronaves

Atenta ao aumento significativo no número de ocorrências de tráfico aéreo de drogas na região, a Polícia Federal (PF) começou a se preparar para combater, de maneira mais intensa, o crime na região do Triângulo Mineiro. Na semana passada, agentes de Uberlândia, Uberaba e de outros pontos do Estado participaram de um curso de tiro com fuzil e de abordagem de veículos e aeronaves em zona rural.

De acordo com delegado chefe da PF em Uberlândia, Carlos Henrique D’Ângelo, esse é o primeiro treinamento do tipo realizado no Estado, com ênfase na abordagem a traficantes. “Tivemos que adquirir fuzis que são de uso bélico. Não seria para usarmos esses armamentos, mas, como os bandidos têm acesso a esse tipo de arma, temos que estar preparados”, salientou.

“Esse treinamento orienta também os policiais sobre os cuidados que devem ser tomados em um ambiente rural, onde é fácil o bandido se esconder e preparar uma emboscada”, disse.
“São 80 homens para monitorar cem cidades” 

Carlos D’Ângelo Delegado Polícia Federal de Uberlândia

Qual é a principal dificuldade da investigação destas quadrilhas?

Aqui, é uma área muito extensa. Somos 80 homens, juntando as equipes de Uberaba e Uberlândia, para monitorar mais de cem municípios. Algumas cidades estão a 500 Km da sede da Polícia Federal. Já há relatos de pousos de aeronaves de traficantes em Unaí, no Noroeste de Minas. Além disso, é preciso um melhor monitoramento aéreo, feito com frequência, para saber a procedência dos aviões que estão pousando aqui. Ainda tem a questão da legislação. Prendemos traficantes que conseguem habeas corpus e respondem o processo em liberdade. Os que conseguimos manter presos continuam operando o esquema do presídio, com comparsas que estão soltos.
O que tem motivado esse crescimento do tráfico de drogas passando pelo Triângulo?
O alto lucro e o baixo risco. A região possui características propícias para esses pousos, mas até então não tinha um histórico de crimes assim. Era muito comum no Oeste paulista. Agora, eles estão focados aqui. Por isso, estamos aumentando as operações para cessar esse crescimento. Também estamos investindo no treinamento dos agentes policiais.
E como os pilotos são contratados?
Há pilotos experientes que já estão no esquema. Mas, cada vez mais, eles estão indo a escolas de aviação para aliciar pilotos novos e até entrando em contato com pilotos agrícolas, para fazer essa rota.
Fonte: O Tempo
 
 

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