Dados da Polícia Civil, registrados entre os dias 1º de janeiro e 31 de agosto de 2018, apontam que mais de 50% das vítimas de homicídios ocorridos na área de atuação do 7º Departamento de Polícia Civil, com sede em Divinópolis, têm antecedentes criminais e envolvimento com o tráfico de drogas.
Os números, apresentados ao G1 pelo chefe do 7º Departamento, o delegado Ivan Lopes, mostram ainda que 11,2% dos casos tiveram motivação passional. Das vítimas, 13,7% eram mulheres.
Ainda conforme o levantamento, houve queda, entre 2017 e 2018, no número de homicídios registrados nos 50 municípios pelos quais o departamento é responsável.
Homicídios
De acordo a Polícia Civil, foram notificados 124 homicídios em todas as cidades do departamento entre janeiro e agosto deste ano. No mesmo período de 2017, o número foi de 181 casos - uma diminuição de 31,5%.
Em Divinópolis e Nova Serrana, cidades mais populosas da área de cobertura do departamento, também houve redução desse tipo de crime.
Na primeira, a queda foi de 2,4% - passou de 42 homicídios no ano passado para 41 este ano, dentro do período analisado. Em agosto, um levantamento da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp)feito a pedido do G1 apontou uma queda 34% nas ocorrências de crimes violentos, como homicídio, estupro e roubo, em Divinópolis.
Já em Nova Serrana, a redução foi de 18,2% (22 casos em 2017 contra 18 em 2018). No entanto, Ivan alerta quanto à proporção dos crimes.
"Divinópolis teve mais homicídios que Nova Serrana, mas, se olharmos proporcionalmente, a situação de Nova Serrana é mais preocupante. Enquanto o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [IBGE] apontou que Divinópolis possui mais de 230.000 habitantes, Nova Serrana tem pouco mais de 99.000", ponderou.
Agosto teve o menor índice de homicídios registrados nas duas maiores cidades nos últimos quatro anos, segundo o delegado. Em 2018, foram 16 casos. Em 2017, foram 18. Em 2016, ocorreram 30 homicídios no mês. Já 2015, houve 22 casos.
Além de Divinópolis e Nova Serrana, as cidades que mais registraram homicídios no período analisado foram Pará de Minas (com nove mortes), Pompéu (oito mortes) e Papagaios (seis mortes).
"É importante ressaltar que Papagaios, uma cidade que possui cerca de 15 mil habitantes, aparece na frente de outras cidades, como Itaúna e Bom Despacho, nesta lista. Proporcionalmente falando, é outra cidade que nos preocupa", disse.
Inquéritos
Conforme os dados apresentados pelo delegado, 45,2% dos crimes ocorridos no ano já estão apurados. Dos 124 homicídios registrados, 56 inquéritos foram concluídos e enviados à Justiça.
No ano, até agora, foram encerrados 80 inquéritos. Os 24 inquéritos restantes são investigações provenientes de outros anos, que só vieram a ser fechados este ano.
Apesar da baixa no número de casos registrados, o andamento das investigações poderia ser mais rápido, segundo o delegado.
“Hoje, temos uma deficiência grande em escrivães, delegados e investigadores em nossas delegacias. Por isso, muita das vezes não conseguimos concentrar todos os esforços em solucionar um caso específico e precisamos remanejar as demandas conforme elas vão aparecendo. Nosso objetivo é concluir todos os inquéritos que são abertos. Mas algumas cidades, como Araújos, sequer possuem delegacia. Logo, os crimes que acontecem nelas são encaminhados às delegacias de cidades vizinhas, que por sua vez possuem seus próprios inquéritos”, externou.
De acordo com o Sindicato dos Servidores da Polícia Civil do Estado de Minas Gerais (Sindpol-MG), a Polícia Civil tem um déficit efetivo de cerca de 50%, com base na Lei Complementar 129/2013.
Em nota, o sindicato afirmou que o último concurso de investigador realizado pelo estado convocou 1 mil novos investigadores, conforme previsto no edital, e outros 541 excedentes. Contudo, o Sindpol-MG diz que existem outros 627 candidatos que ainda podem ser aproveitados, mas que, mesmo que todos sejam chamados, o déficit continuará.
Também em nota, a Polícia Civil de Minas Gerais informou que o concurso para investigadores citado pelo Sindpol foi prorrogado por mais dois anos em agosto do ano passado.
Após a prorrogação, foram nomeados 93 investigadores ao final de 2017 e outros 451 no início de 2018. Estes nomeados já terminaram o treinamento na Academia de Polícia Civil e já estão sendo designados para diversas delegacias do Estado.
Motivação
De acordo com os dados, a maior motivação para os homicídios na região é o envolvimento com o tráfico. Dos 124 crimes registrados no ano, 52,4% das vítimas possuíam algum tipo de envolvimento com o uso ou comercialização de drogas. Deste número, outros 11,2% dos crimes foram cometidos por crimes passionais. Os demais foram crimes cometidos por motivos considerados diversos pela polícia.
motivação 52,4
Idade das vítimas
Os dados mostram que a maior parte das vítimas no período (47,5%) tinha entre 18 e 30 anos, 25% tinha entre 30 e 45 anos e 12,1% entre 12 e 18 anos. O G1 não teve acesso às demais faixas etárias.
Crimes contra mulheres
Dos 124 homicídios registrados até o dia 31 de agosto de 2018, 17 foram contra mulheres - um total de 13,7%. Desses, 41,2% foram cometidos por motivos passionais, de acordo com os dados.
Antecedentes
Os dados revelam ainda que 53% das vítimas inclusas nos 124 casos registrados possuíam antecedentes criminais. Porém, o chefe do 7º Departamento de Polícia Civil estima que o número real ultrapasse 80%.
"Estimamos que a porcentagem real ultrapasse os 80% pois muitos daqueles que são reincidentes cometeram crimes quando tinham menos de 18 anos, quando não há registros. Os outros 46%, formalmente, não possuem registros. Porém, quando se investiga bem, é possível ver que há alguma ligação, algum envolvimento. Exceto nos casos onde a vítima foi morta em algum latrocínio ou o crime teve motivação passional", afirmou.
Furtos e roubos
Os dados mostram, ainda, uma redução no número de furtos e roubos nas cidades. Enquanto o número de furtos apresentou caiu 13,9% nas cidades do 7º Departamento, o número de roubos diminuiu 34,5%.
Entre janeiro e agosto, foram registrados 11.704 furtos em todos os municípios. Em 2017, o número foi de 13.598 casos. Já os roubos passaram de 4.753 casos no ano passado para 3.112 em 2018.
Divinópolis e Nova Serrana também apresentaram redução nos números. Em Divinópolis, a quantidade registrada de furtos passou de 3.110 em 2017 para 2.978 em 2018. Já Nova Serrana passou de 1.029 casos no ano passado para 869 neste ano.
Quanto aos roubos, ambas as cidades apresentaram uma redução considerada significativa pela Polícia Civil: Divinópolis teve uma redução de 34,9%, passando de 1.286 casos em 2017 para 836 registros neste ano. Nova Serrana, por sua vez, apresentou uma redução de 40%, reduzindo seus furtos de 1.425 casos no ano passado para 855 em 2018.
Furtos e roubos nas cidades do 7º Departamento
registrosfurtosroubos201720182,5k5k7,5k10k12,5k15k
2017
● roubos: 4.753
Fonte: Polícia Civil
A redução, mesmo com o efetivo menor, se deve à priorização da investigação em crimes considerados violentos, de acordo com o Delegado.
"Atribuo a redução à priorização nos crimes violentos e comprometimento dos policiais envolvidos nestes casos e, também, a integração das forças de segurança da região, desde a Polícia Militar, que consegue prevenir o crime ou até mesmo reagir imediatamente, até ao judiciário e ao Ministério Público. Além disso, há uma grande parte de contribuição da população, que é responsável por repassar muita das informações à Polícia", avaliou.