“Tem gente dormindo em cadeira há três, quatro dias. Não tem enfermeiro nem médico. É um paciente sendo solidário com o outro para pedir atendimento e ir ao banheiro”, relata o publicitário Marcelo Carvalho, de 34 anos. Ele está internado na unidade, porque precisa tomar um remédio a cada oito horas. “Não seria mais fácil eu vir aqui nesses períodos, para liberar vaga?”, questiona. “O descontrole está tanto que nessa sexta-feira, mesmo internado, eu saí, fui ao meu trabalho e ainda almocei com amigos, depois voltei. Uma senhora de 92 anos passou a noite toda numa cadeira que não reclina”, conta.
Segundo relatos, a maioria das pessoas estão com alguma infecção, muitas delas ainda não identificadas. Por isso, enquanto alguns pacientes tomam antibióticos, outros estão no soro. A classificação tem nove leitos, mais três para acompanhantes. Oito macas estão espalhadas pelos corredores. Estima-se que cerca de 40 pacientes mais seus acompanhantes estejam na área, que serve, em situações normais, para o encaminhamento dos pacientes para a especialidade adequada.
Quem está no local conta ainda que, pela falta de profissionais, há gente sem banho há vários dias. Toalhas também estão sendo substituídas por lençóis. São dois banheiros, sem fechadura e entupidos, e um chuveiro para servir a todos. No fim da manhã, o atendimento a pacientes sem gravidade chegou a ser suspenso.
“Hoje tem em serviço um grupo de enfermeiros abaixo do mínimo. Tive que comprar forro para a cama do meu cunhado. Os plásticos que põem nas camas são sacos de lixo que rasgam ao meio para cobrir os leitos. Os funcionários fazem o possível, mas a estrutura está falida”, diz o advogado Adelmo Simões, de 60 anos.
O cunhado dele, de 40 anos, está com um câncer que avança rapidamente e toma morfina a cada quatro horas numa maca no corredor. “Ele não se mexe. Hoje eu e minha cunhada conseguimos dar o banho nele, depois de quatro dias sem. Também não há comadre. Dão para fazer xixi uma garrafa de plástico cortada ao meio. A cama dele está toda molhada”, conta.
Adelmo Simões está preocupado, pois, como ainda não foi para a enfermaria, o tratamento do cunhado ainda não começou. “O mais grave aqui é o tratamento com as pessoas, que é desumano, humilhante”, disse, visivelmente emocionado. Se o familiar não for transferido neste sábado para a internação, ele vai entrar na Justiça com uma liminar para obrigar o Ipsemg a fazê-lo. “Onde está o Ministério Público para fazer cumprir o Estatuto do Idoso, diante do número grande de pessoas de idade mais avançada nessa situação? Se não tem vaga, não receba as pessoas.”
O Ipsemg foi procurado e a reportagem aguarda retorno.