Segundo familiares, Maria Augusta consumiu a bebida Belorizontina na capital mineira em dezembro. Nesta quinta (16), a SES-MG confirmou que investiga o caso.
Por Anna Lúcia Silva, G1 Centro-Oeste de Minas
16/01/2020 20h49 Atualizado há 18 horas
Maria Augusta Campos Cordeiro tinha 60 anos e morreu no fim de dezembro em Pompéu — Foto: Família/Arquivo pessoal
"Queremos esclarecimentos", contou ao G1 a enteada de Maria Augusta Campos Cordeiro, de 60 anos, possível vítima de intoxicação causada pelo consumo da cerveja Belorizontina. Em rápida entrevista concedida à reportagem na noite desta quinta-feira (16), Adriana Neves disse também que a família aguarda o posicionamento de autoridades e a apuração da polícia.
O caso entrou para a lista de investigação da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) nesta quinta. Foram notificados 18 casos suspeitos de intoxicação exógena por dietilenoglicol até o momento. Desses, 16 pessoas são do sexo masculino e duas do feminino.
A SES-MG confirmou que quatro casos evoluíram para óbito e os 14 restantes seguem sob investigação, uma vez que apresentaram sinais e sintomas com relato de exposição. Apenas uma das mortes, de Paschoal Dermatini Filho, de 55 anos, teve confirmada a presença da substância dietilenoglicol no sangue. Ele era de Ubá e morreu no dia 7 de janeiro após ficar internado na Santa Casa de Juiz de Fora.
Além de Maria Augusta, as outras duas mortes investigadas são de idosos: Antônio Márcio Quintão de Freitas, de 76 anos; a outra vítima não teve a identidade revelada, mas tinha 89 anos. A confirmação sobre a causa da morte depende do resultado de análises laboratoriais, conforme a SES-MG.
Vítima
Maria Augusta de Campos Cordeiro, de 60 anos, morava em Pompéu e no dia 20 de dezembro estava em Belo Horizonte visitando as duas enteadas. De acordo com a família, neste dia Maria Augusta consumiu a cerveja no Bairro Buritis e desde então vinha se queixando de dores abdominais, diarreia e vômitos.
Ela voltou para Pompéu e permaneceu sentindo mal estar até o dia 26 de dezembro, quando deu entrada no Pronto Atendimento da Santa Casa de Pompéu. O quadro clínico da paciente se agravou e ela faleceu no dia 28 de dezembro, com causa constatada como insuficiência renal e alteração neurológica.
Após a SES-MG divulgar sobre as investigações relacionadas a cerveja Backer no dia 7 de janeiro, a família se atentou à hipótese. Por isso, na segunda-feira (13), a família registrou um Boletim de Ocorrência e levou o caso ao conhecimento da Polícia Civil em Belo Horizonte.
À época, a Prefeitura de Pompéu informou, por meio de nota, que desde que tomou conhecimento do caso, "a Secretaria Municipal de Saúde juntamente com o Pronto Atendimento, realizou a apuração e levantamento de informações com posterior notificação e encaminhamento ao CIEVS-MG".
O caso foi comunicado à SES na ocasião e diante de apurações sobre os principais sintomas causados pela ingestão da possível bebida contaminada, a SES incluiu a morte de Maria Augusta como um caso a ser investigado.
Relação com a cerveja
A Polícia Civil de Minas Gerais instaurou um inquérito para investigar a Cerveja Belorizontina produzida pela Backer, com o objetivo de determinar se consumo da cerveja produzida por ela, tem relação com a internação de pessoas na capital mineira e ainda, a morte de um paciente em Juiz de Fora, na Zona da Mata. Todas a vítimas têm em comum o fato de terem ingerido a cerveja.
Por meio das investigações foi descoberto em duas garrafas do lote 1348, das linhas de produção L1 e L2, uma substância tóxica chamada dietilenoglicol, usada em serpentinas no processo de refrigeração de cervejas. A substância é apontada como causadora da síndrome nefroneural.
Nesta quinta, o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa) afirmou que identificou as substâncias dietilenoglicol e monoetilenoglicol em oito rótulos produzidos pela cervejaria Backer. Além das marcas Belorizontina e Capixaba já divulgadas, foram encontradas as substâncias tóxicas em outras seis marcas:
Backer D2
Backer Pilsen
Brown
Capitão Senra
Fargo 46
Pele Vermelha
Na última semana, a fábrica da Backer, localizada no Bairro Olhos D’água, na Região Oeste da capital mineira, foi interditada pelo Ministério da Agricultura. Na ocasião, foram apreendidos 139 mil litros de cerveja engarrafadas e 8.480 litros de chope. Também foram lacrados tanques e demais equipamentos de produção.
Ministério identifica oito rótulos de cerveja contaminados da Backer em 21 lotes, sendo que um lote foi usado para engarrafar a Belorizontina e a Capixaba — Foto: Reprodução/Mapa
Investigação
Nesta quinta, um ex-funcionário da Backer e um ex-funcionário de uma distribuidora de produtos químicos, fornecedora de insumos, foram ouvidos pela Polícia Civil. O ex-funcionário da empresa química foi apresentado pelos advogados da cervejaria. O teor do depoimento não foi divulgado.
A Backer nega que usa o dietilenoglicol no processo de fabricação. Ele foi encontrado pelo Ministério da Agricultura em um tanque de fermentação e na água usada pela cervejaria.
Através do Programa de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon) estadual, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) afirmou que as cervejas produzidas pela Backer não devem ser vendidas e nem fornecidas por comerciantes no estado. O comunicado foi emitido depois de uma reunião entre o órgão e representantes da cervejaria.
O órgão definiu ainda que os produtos deverão ser separados e ficar sob a guarda do responsável pelo estabelecimento até a conclusão das investigações. Até a última atualização desta matéria, a cervejaria não tinha se pronunciado para orientar os comerciantes sobre a destinação das bebidas.
Após uma ação de busca e apreensão, realizada pela Polícia Civil, amostras de produtos e documentos da empresa Imperquímica, localizada no Bairro Vila Paris, em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, foram recolhidos. A empresa fornece monoetilenoglicol para a cervejaria Backer. Ninguém do estabelecimento foi encontrado pela reportagem para falar sobre o assunto.
Recall
O Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento afirmou na última segunda-feira que intimou a cervejaria Backer a realizar recall de todas as cervejas e chopes da empresa e também suspender a venda de qualquer produto da marca, até que seja descartada a possibilidade de contaminação de demais produtos. A medida abrange qualquer rótulo da cerveja, além dos chopes, fabricado entre outubro de 2019 e esta segunda.
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