Vítimas relatam medo constante e comércio acumula prejuízos; Polícias Militar e Civil reforçam investigações e ações preventivas. Bancos também se posicionaram.
Por Carina Lelles, G1 Centro-Oeste de Minas
17/12/2017 15h05 Atualizado há 4 horas
Em Pompéu os bandidos explodiram caixas e mataram três pessoas (Foto: TV Integração/Reprodução)
A série de ataques a caixas eletrônicos registrados no Centro-Oeste de Minas fez com que moradores mudassem a rotina e precisassem se deslocar para outras cidades para conseguir receber pagamentos. Os comerciantes reclamam que as vendas caíram e a inadimplência aumentou e as polícias Militar e Civil fazem uma força-tarefa para reprimir a modalidade criminosa e prender os suspeitos.
O G1 fez levantamento das cidades que registraram explosões de caixas eletrônicos nos últimos 40 dias e conversou com moradores e comerciantes sobre a rotina após os ataques. O crime é considerado pelas forças de segurança como dano ao patrimônio, mas as consequências atingem muito além dos estabelecimentos bancários.
De acordo com os dados da Polícia Militar, até o dia 5 de dezembro foram registradas 22 ocorrências de explosão de caixas eletrônicos em 2017, na área de abrangência da 7ª Região da PM. O último ataque foi ao equipamento do
Banco do Brasil instalado no Fórum de Formiga, no dia 12 de dezembro, segunda vez em pouco mais de 30 dias,
em que a agência do Bradesco foi destruída.
Com relação ao caixa eletrônico do Banco do Brasil, a assessoria de imprensa informou que que há outra agência localizada a 300m do local, à disposição para atendimento aos clientes.
Já a assessoria de comunicação do Bradesco informou que não há previsão de abertura da agência. “O Bradesco está avaliando os danos ocorridos para reestabelecer o atendimento o mais breve possível. Os clientes da cidade podem fazer suas transações nas cinco unidades do Bradesco Expresso, correspondente bancário que oferece atendimento em estabelecimentos comerciais em horário diferenciado”, diz a nota.
“Formiga tem cerca de 70 mil habitantes. É uma cidade relativamente grande e temos sofrido com estes ataques, foram três nos últimos meses. Ainda não atrapalha para fazermos as transações bancárias, mas ficamos com medo de acontecer o que aconteceu em Pompéu”, ressaltou o morador, Diógenes Modesto da Cruz, de 55 anos.
Pompéu
Alisson morreu ao ser atingido por um tiro no ombro quando saia do trabalho em Pompéu (Foto: Reprodução/Rede Social)
O exemplo usado para explicar o medo do Diógenes, foi
a explosão a caixa eletrônico ocorrido na madrugada de 5 de dezembro, em Pompéu. Os cabos da PM, Osías Alves de Barros, de 33 anos e Lucas Reis Rosa, de 27, morreram no confronto com os criminosos.
O jovem Alisson dos Reis Pinheiro, de 22 anos, também foi uma das vítimas. Ele voltava para a casa após sair da lanchonete onde trabalhava como atendente e foi atingido por um tiro no ombro.
“O patrão dele nos contou que ele havia sido baleado. Chagamos ao local e ele já estava morto. Ficamos até as 8h da manhã aguardando a retirada do corpo dele do local, foi muito tempo de agonia. Ainda não conseguimos voltar à rotina, para nós a ‘ficha’ ainda não caiu. Não saímos de casa à noite por medo. A gente está acostumado a ver umas coisas dessas na televisão, mas nunca imagina que vai acontecer na nossa casa”, contou o irmão da vítima, Adisson dos Reis.
E não foi somente as famílias das vítimas que sofreram com o ataque. A agência do Banco do Brasil foi atingida e, com isso, os serviços bancários foram suspensos.
“Isso afeta muita gente e também o comércio. Aposentados e outras pessoas que recebem no Banco do Brasil têm que ir para outras cidades para receber, com isso eles acabam fazendo as compras nestas outras cidades e os comerciantes estão sentindo os impactos”, revelou a secretária executiva da Associação Comercial de Pompéu, Sirlene Menezes.
Em nota, o Banco do Brasil informou que agências em todo o país tiveram suas estruturas comprometidas em razão de ações criminosas ao longo dos últimos anos. “Esses ataques têm levado a contingenciamentos, suspensão temporária ou mesmo definitiva do atendimento em alguns municípios do país. O BB lamenta os transtornos ocasionados por fatores alheios à sua vontade. Os sinistros prejudicam a integridade física e emocional de clientes, funcionários e prestadores de serviços”, conforme o texto.
Ainda na nota, o Banco do Brasil informou que a recomposição estrutural de pontos de atendimento é um processo oneroso.
“O BB precisa cumprir requisitos legais para licitação de contratação de projetos arquitetônicos e de engenharia, para realização de obras. É preciso adquirir todo o mobiliário e equipamentos, inclusive de segurança, necessários ao seu funcionamento. Como alternativa à suspensão do atendimento, os clientes podem utilizar correspondentes bancários e casas lotéricas para saques e consulta a saldos e extratos, além da rede Banco 24 Horas para transações de saques, consulta a saldos e extratos, recebimento de benefício e pagamento de contas”.
A secretária executiva de Pompéu ressaltou que os Correios e Casas Lotéricas auxiliam, porém há um limite para saques e depósitos.
“Já recebemos relato de pessoas que foram para a fila dos Correios as 5h da madrugada e não conseguiram receber porque o dinheiro tinha acabado quando chegou a vez. Tivemos relato também de uma pessoa que foi receber em Martinho Campos e na volta para Pompéu foi cercado e assaltado na estrada”, afirmou.
Pitangui
Agência dos Correios auxiliava os moradores após explosão no Banco do Brasil, mas o local também foi alvo dos criminosos (Foto: Polícia Militar/Divulgação)
Em Pitangui a situação também é crítica.
A agência do Banco do Brasil foi explodida em setembro. O local ficou totalmente destruído e a explosão gerou um incêndio. Menos de dois meses depois,
a agência dos Correios da cidade também foi alvo dos criminosos.
“Aposentados e professores, além dos funcionários de uma mineradora recebem no Banco do Brasil. Depois da explosão na agência, a gente contava com atendimento dos Correios, mas a agência também foi explodida. Com isso, estas pessoas vão para Pará de Minas ou Nova Serrana para receber, fazem as compras por lá, gastam o dinheiro por lá mesmo. Até a inadimplência cresceu em Pitangui”, destacou a gerente administrativa da Associação Comercial de Pitangui, Marta Barcelos.
E não foi somente o comércio que foi afetado na cidade. No terceiro andar do prédio do Banco do Brasil que foi explodido, funcionava o Instituto Histórico de Pitangui, onde estavam arquivados documentos históricos e livros do século 18. No local, também estavam guardadas dezenas de imagens sacras que foram restauradas. Segundo o instituto, apenas alguns papeis na recepção foram queimados, mas todo o material histórico, cerca de 100 mil peças, foi preservado.
O Instituto Histórico de Pitangui permanece sem sede. O acervo de arte sacra foi transferido para uma sala cedida por um morador de Pitangui. Para evitar o roubo, o local é mantido em segredo, sendo do conhecimento de pouquíssimas pessoas na cidade e outra parte foi transferido para o prédio da Biblioteca Municipal, cedido pela Prefeitura de Pitangui. Porém, os documentos estão apenas armazenados no local e não é possível que sejam consultados.
“É preocupante. O trabalho de organização está parado e o material vai ter que passar por um processo de higienização para tirar a fuligem que ficou”, explicou um dos membros da diretoria do Instituto, Marcelo Freitas.
Morro do Ferro e São Francisco de Paula
Policial transferido após ser baleado no Distrito Morro do Ferro em Oliveira (Foto: Thiago Carvalho/G1)
Morro do Ferro é um distrito de Oliveira e teve a única agência bancária do local, o Sicoob, explodida no dia 5 deste mês. Um militar, de 33 anos, que estava de folga, teve a casa cercada pelos criminosos e foi baleado. Segundo a Polícia Militar, ele já recebeu alta hospitalar.
Em São Francisco de Paula, o alvo também foi uma agência do Sicoob, a única na cidade, no dia 9 de novembro.Os moradores têm que ir para cidades vizinhas para poder fazer transações bancárias e receber pagamentos, dependendo do valor. “Aqui é muito pequeno e geralmente as pessoas vão em Oliveira para resolver outros assuntos. Com a falta do banco aqui, fica ainda pior porque os clientes desapareceram e a gente fica vendendo ‘picado’, coisa miúda”, disse o comerciante Ademiro Silva, do distrito de Morro do Ferro.
A assessoria de comunicação do Sicoob informou que as agências seguem normas e são equipadas com instrumentos de segurança.
“A questão que percebemos é de que, em algumas épocas do ano, há um aumento desse tipo de crime a instituições financeiras e comércio em geral, não só a bancos e cooperativas, mas também financeiras, casas lotéricas, comércio com grande volume de vendas etc.. Infelizmente essas quadrilhas devem ser investigadas e impedidas de continuar a atuação e isso, o Sicoob trabalha de forma efetiva junto ao lado de investigadores e Polícia. O Sistema sempre colabora com as autoridades nas investigações sobre casos de assalto as agências e explosões de caixas eletrônicos, e se coloca à disposição para contribuir de forma efetiva junto aos investigadores e à Polícia”, diz o texto.
Arcos
Um dos veículos utilizado pelos criminosos na explosão agência bancária em Arcos foi encontrado carbonizado (Foto: Polícia Militar/Divulgação)
Em Arcos, uma agência do Banco do Brasil foi explodida na madrugada de 4 de dezembro.
Os criminosos fizeram 12 pessoas reféns, realizaram diversos disparos pela cidade, inclusive contra as câmeras do sistema "Olho Vivo", e fugiram em seguida.O G1 conversou com uma das vítimas, que pediu para não ser identificada. O homem, de 33 anos, contou que estava com amigos em uma lanchonete e já estava indo embora quando os suspeitos chegaram.
“Eles estavam com armas pesadas, mandaram a gente tirar a camisa e subir na carroceria de uma caminhonete. A todo o momento eles falaram que iam nos matar se a gente reagisse, mas nem tinha como fazer nada, eles eram muitos e estavam fortemente armados. Eu fecho o olho para dormir e não consigo, até hoje ouço o barulho dos tiros. Pensei que ia morrer”, revelou.
Alternativas
Para evitar a movimentação de dinheiro, as agências bancárias orientam os clientes a utilizar mais os cartões que o dinheiro de papel. O Sicoob informou que as cooperativas já têm utilizado e estimulados seus cooperados a utilizarem mais cartões e aplicativo móbile para efetivar as transações.
“Nas últimas abordagens criminosas, as pessoas envolvidas não obtiveram êxito. O transtorno maior, no caso, é a destruição causada nos caixas e agências. Muitas vezes, o cofre nem está com dinheiro vivo ou os bandidos se atrapalham e não o levam”.
O Banco do Brasil informou que busca sistematicamente ampliar a emissão e aceitação dos cartões de crédito e débito para o consumo de produtos e serviços em substituição ao papel moeda, com ganhos de agilidade e conveniência.
Investigações e prevenção
Agentes e militares especializados compõem a força-tarefa (Foto: Carina Lelles/G1)
Na área da 7ª região da PM e 7º Departamento da Polícia Civil,
foi criada a força-tarefa contra a modalidade criminosa. As equipes serão formadas por agentes e militares especializados e atuarão principalmente nas cidades menores da região, que têm sido o alvo dos ataques as agências bancárias.
O chefe do 7º Departamento da Polícia Civil, Ivan Lopes, disse ao G1 que a força-tarefa está trabalhando muito, mas não poderia comentar os últimos casos para não atrapalhar as investigações.