E a mente vareia
Naquela noite no sertão
O escuro agora campeia
De forma mansa e certeira
Pelas bandas daquele mundão.
A luz do dia padece
Nesta hora não aparece
Indo embora da visão.
Lamparina apressada acessa
Um prato esmaltado na mesa
Comida boa não tem não.
La fora vai e espia
O grunar rouco de uma cutia
O mato diz um tantão.
O céu no rompante se agita
O vento corta, assovia
Um grito forte de solidão.
Caminha então pro lado
Onde um santo assustado
Num canto faz pregação.
Pela espreita então aberta
Um aminal até conversa
Reza, prece e comunhão.
Apruma o rumo e o passo
Fôlego de todo apressado
A mente é só confusão.
Procura a ponta do desterrado
Corre no encharcado pasto
Tropeça no tufo de colonião.
Pareia na baixa do rio
Trememdo de medo e frio
Vendo com desgosto a imensidão.
Galopa morro e caminho
Lá pras beiras do Saltinho
Querendo alcançar brejo e lajão.
Depara com um beato bruto
Sentado na porta de um cafufo
Para e pede benzeção.
Procura outra trilha apagada
Já na beirada de uma estrada
Na cabeça só oração.
Vagueia a ermo, solitário
Louco, perdido e temerário
Querendo conforto temporário
Rogando a Deus um sepulcário
Carregando terço e rosário
Naquela noite no sertão.
Herr Augsten
Quarentena de 2020
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