segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Ajeitamento: Delegado do caso Amarildo seria amigo dos PMs investigados

PM afirma que não há informações que denigram imagem de professor.
Coinpol concluiu que Ruchester Marreiros cometeu infrações disciplinares.

Cristiane CardosoDo G1 Rio
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Cronologia do caso Amarildo arte  (Foto: Editoria de arte / G1)
O delegado Ruchester Marreiros, investigado pela Corregedoria Geral Unificada (CGU) devido a divergências na transcrição de escutas telefônicas relatadas no inquérito da Operação Paz Armada, que aponta o envolvimento do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza com o tráfico de drogas na Rocinha, Zona Sul do Rio, ministra aulas no curso de formação de oficiais da Academia da Polícia Militar, conforme informou a PM nesta segunda-feira (28). A informação foi divulgada pelo Jornal Extra.
De acordo com a assessoria da Polícia Militar, quando o comandante da academia assumiu, há cerca de três meses, já existia um corpo docente formado, do qual o delegado já fazia parte. A PM declarou ainda que até as17h40 desta segunda, não havia informações que manchassem a imagem do delegado como professor e que Ruchester é parte de uma investigação ainda em curso. O delegado não foi encontrado pelo G1.
Segundo a Polícia Civil, a sindicância da Corregedoria Interna da polícia (Coinpol) concluiu que o delegado cometeu três infrações disciplinares: “deu informações inexatas ou alteradas; agiu, no exercício da função, com displicência ou negligência e não exerceu a função policial com probidade, discrição e moderação, deixando de observar as leis com lisura”.
Ainda de acordo com a Polícia Civil, como a punição para estas infrações pode ultrapassar 90 dias de suspensão, a chefia de polícia acolheu a manifestação da Coinpol e o caso foi encaminhado à CGU.
A Polícia Militar informou ainda que os docentes são escolhidos por inscrição no banco de talentos da Secretaria de Segurança e que o nome dele consta nas investigações há um mês. A Polícia Militar acrescentou que o ano letivo está encerrado e que Ruchester já concluiu sua disciplina na academia.
Divergências em relatórios
Quando as investigações sobre o desaparecimento de Amarildo ainda estavam sob a responsabilidade da 15ª DP (Gávea), os delegados Ruchester Marreiros, então adjunto, e Orlando Zaccone, o titular da unidade, produziram relatórios divergentes sobre o caso.
No relatório, o delegado Ruchester Marreiros citava uma escuta telefônica gravada dez dias depois do sumiço do ajudante de pedreiro, entre o traficante conhecido como "Espinha" e uma pessoa não identificada.
Marreiros disse que é possível ouvir quando membros da organização criminosa comentam sobre a morte de "Boi". Na comunidade, Amarildo tinha esse apelido. Ainda de acordo com o relatório,  "Boi" teria sido espancado e, depois, queimado. No diálogo, dizem que a responsabilidade pelo aparecimento do corpo seria Djalma e Rogério, dois traficantes da Rocinha.
No entanto, o delegado titular da 15ª DP, Orlando Zaccone, desqualificou esse ponto do relatório de Marreiros. Em seu relatório, Zaccone diz que a conclusão de Ruchester Marreiros é feita à margem da investigação, beirando a ficção. O delegado afirma ainda que a transcrição da escuta telefônica feita pelo policial responsável por ouvir as gravações é totalmente distinta da apresentada por Marreiros.
Em seu relatório, Zaccone informou ainda que anexou peças como parte integrante de seu relatório final. Uma das peças, segundo o delegado, seria um documento redigido pelo policial que escutou as conversas grampeadas. De acordo com esse documento, quando "Espinha" fala ao telefone, ouve-se, ao fundo, uma conversa sobre o desaparecimento de algum homem.
No diálogo, um criminoso, parece perguntar se acharam o corpo. Uma outra pessoa parece dizer que "não" e menciona no final a palavra "fogo". Ainda segundo o documento, um dos bandidos  que fala ao fundo parece dizer que "Vidal" ou "Vital" é quem tem que apresentar o corpo.
O relatório  feito por Zaccone foi encaminhado ao Ministério Público. O documento concluiu que as escutas não são provas suficientes para apontar os responsáveis pelo desaparecimento de Amarildo.
Desaparecimento
Amarildo sumiu um dia após uma operação policial na comunidade, no dia 14 de julho, quando foi levado por policiais militares para uma base da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) para uma averiguação. Segundo os PMs da UPP, ele foi liberado em seguida. A Divisão de Homicídios, que investiga o caso, contudo, trabalhava com duas hipóteses: Amarildo teria sido morto por policiais ou traficantes.
Nesta segunda, quatro mulheres que são soldados da PM do Rio de Janeiro disseram que receberam ordens de superiores para ocultar provas da tortura a Amarildo e que foram obrigadas a dar declarações pré-combinadas aos investigadores do caso. É o que revelam depoimentos obtidos com exclusividade pelo Bom Dia Rio.
Vinte e cinco PMs que eram lotados na UPP da Rocinha já foram denunciados pelo desaparecimento e pela morte de Amarildo de Souza. Treze já estão presos – três se entregaram no dia 23. O corpo do ajudante de pedreiro ainda não foi localizado.
Durante mais de três meses, as quatro soldados esconderam o que testemunharam na Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Rocinha em 14 de julho. Só criaram coragem para falar o que viram e ouviram naquela noite após a prisão de parte dos policiais acusados de envolvimento no caso.

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