Estamos todos consternados com a queda do avião que levava a delegação da Chapecoense para Medellin, Colômbia, onde disputaria a primeira partida da final da copa Sul-americana, e vitimou 71 pessoas.
Aos familiares e amigos, prestamos nossa solidariedade. Todavia, nesse momento de comoção – sem ser oportunista, mas aproveitando a oportunidade de reflexão que a morte coletiva traz – quero reavivar-lhes a memória de que anualmente caem pelo menos dois aviões repletos de policiais debaixo de suas janelas e aos olhos de suas indiferenças, somente no Rio de Janeiro neste ano, que ainda não acabou, 106 guardiões da constituição e dos direitos individuais. A única divergência é que ocorrem em dias distintos.
O que os policiais e seus familiares desejam é que as autoridades tenham o mesmo interesse em desvendar as causas, como ocorre nesses eventos, e se apressem em abrir as caixas pretas que vão acusar as causas de tantas mortes, para evitar acidentes futuros.
Quem sabe essas caixas pretas possam revelar a política equivocada dos governantes, as leis mal elaboradas que protegem marginais, em detrimento da segurança dos policiais e, por consequência, da sociedade, entre outros.
No voo com a delegação Chapecoense especula-se a possibilidade de “pane seca”, ou seja, a falta de combustível. Nas tragédias urbanas que ceifam nossos policiais as causas não são menos primárias.
Quem sabe pudéssemos ver a sociedade mobilizada contra a morte de tantos jovens policiais que, sonhadores iguais aos jogadores de futebol, desejaram como título uma família constituída, apoiar financeiramente seus pais, concluir uma faculdade ou ver seu filhinho nascer. Até mesmo o veterano ceifado pouco antes de chegar ao júbilo da aposentadoria em que planejava, enfim, curtir a sua família e ser um avô dedicado, para resgatar a deficiência que teve como pai, em razão do tempo gasto com o seu trabalho.
Talvez os programas de televisão tirassem um dia para sensibilizar todos, desde o primeiro jornal do dia. Continuaria com os programas matutinos, trazendo especialistas no assunto para um debate.
Nos programas infantis, nesse dia poderia passar desenhos que inspirassem as crianças a ver o policial como seu amigo, para crescer respeitando as autoridades constituídas.
Ao chegar o horário dos programas esportivos, poderiam fazer pautas com policiais que vão aos estádios com seus filhos ou até mesmo de filhos que ficaram sem o seu melhor amigo, o pai, para assistir ao futebol.
Nos vespertinos em vez de fofocas de artistas, poderiam mostrar as esposas e mães desses guerreiros que fazem arte todos os dias para suprir a ausência do policial que ora está na corporação, ora nos trabalhos extras que complementam suas rendas.
À noite, depois do telejornal mostrando o trabalho dos policiais do mundo todo, com infográficos e comparativos da realidade brasileira bem mais difícil, o capítulo da novela poderia ter nos textos dos atores falas que confortassem a família policial e despertassem a sociedade para a necessidade de valorizar esses profissionais.
Para finalizar, o programa humorístico não faria nenhuma piada com a profissão do policial. Nesse dia, pelo menos, eles constatariam que fazer chocarrice com qualquer profissão não tem graça alguma.
Sem ser oportunista, mas aproveitando a oportunidade de reflexão que a morte coletiva traz – quero refrescar-lhes a memória de que nossos policiais mortos são aviões que caem todos os anos.
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