Equipamentos avançados são fundamentais para conseguir provas irrefutáveis contra suspeitos de delitos misteriosos, como o desaparecimento de Eliza.
Seis meses depois, a juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues, do Tribunal do Júri de Contagem, na Grande Belo Horizonte, considerou incontestáveis as provas técnicas e, mesmo sem a localização do corpo, mandou Bruno e mais sete pessoas a júri popular. Entre os crimes a eles imputados estão homicídio e ocultação de cadáver. Para a perita criminal Ângela Romano, chefe da Seção de Perícia de Crimes contra a Vida do IC, a pronúncia da magistrada coroou o esforço dos peritos para auxiliar os investigadores do DIHPP a desvendar o misterioso sumiço de Eliza. “Era preciso a prova material para fundamentar a subjetiva (depoimentos)”, disse.
No ano passado, além do caso Bruno, a Seção de Perícia de Crimes Contra a Vida usou técnicas modernas, equipamentos e produtos de última geração para elucidar outros crimes na Região Metropolitana de Belo Horizonte, que tiveram repercussão internacional. Testes de DNA comprovaram ser de Marcos Antunes Trigueiro as amostras de sêmen colhidas nos corpos de cinco mulheres, estupradas e cruelmente assassinadas em Contagem, onde o serial killer agia. A mesma técnica foi usada para identificar os corpos dos empresários Rayder Santos Rodrigues e Fabiano Ferreira Moura, vítimas do Bando da degola, encontrados carbonizados, decapitados e sem os dedos das mãos, em Nova Lima.
Luminol
O primeiro passo da perícia à procura de vestígios do assassinato de Eliza Samudio foi vasculhar a Range Rover do goleiro Bruno, usada para transportar a modelo do Rio de Janeiro até Minas. Em depoimento à polícia, o menor J., primo do jogador, afirmou tê-la agredido com coronhadas dentro do carro, no meio do caminho. Para confirmar a versão do adolescente, os peritos usaram uma das suas principais armas: a substância química luminol. Borrifado em qualquer superfície, o luminol reage com outra substância que contenha ferro, apontando a possível presença de sangue no local. “O luminol nos aponta uma mancha, mas não é suficiente para afirmar se ela é mesmo de sangue. Para isso, usamos em seguida outra substância, chamada hexagon obti, que reage especificamente com sangue humano”, explicou Ãngela Romano.
Para localizar as marcas de sangue na Range Rover, o veículo foi colocado num galpão fechado, escuro, ambiente necessário para o uso de outro equipamento essencial no dia a dia dos peritos: a luz forense. “As manchas de sangue ficam com luminosidade azul com a aplicação da luz forense, se tornando uma prova incontestável, mesmo se tentarem apagar as pistas, como fizeram na Range Rover”, disse a perita criminal. Para confirmar que o sangue era de Eliza, bastou fazer o teste de DNA, confrontando as amostras recolhidas no carro com as de saliva do filho da modelo.
A perícia, no entanto, não conseguiu provar o que mais chocou a opinião pública no desenrolar das investigações do assassinato de Eliza. Segundo J., depois de ser trazida para Minas na Range Rover, ela foi morta por asfixia, esquartejada e partes do corpo da vítima foram jogadas para cães da raça rottewiler. “Só encontraríamos vestígios nas fezes dos cachorros até 18 horas depois do acontecido. Já havia se passado um mês do assassinato quando a perícia foi feita”, ressaltou Ângela Romano. Os peritos chegaram a usar substância semelhante ao luminol no pelo dos animais. “Encomendamos dos Estados Unidos a substância hemascein, que tem a mesma função do luminol, mas não é tóxico.”
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