segunda-feira, 14 de maio de 2012

Cadáveres ficam mais de dez horas aguardando remoção


Problema seria falta de "rabequeiro", servidor que dirige e remove os corpos
Publicado no Jornal OTEMPO em 14/05/2012
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CRISTIANE GRANDI
ESPECIAL PARA O TEMPO
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FOTO: ALEX DE JESUS - 10.5.2012
Serviço. Rabecão é necessário em remoções no caso de mortes violentas ou por causas desconhecidas
Os 5,4 milhões de moradores de Belo Horizonte e da região metropolitana têm à disposição quatro rabecões, veículos da Polícia Civil usados para remover corpos no caso de morte violenta ou por causa desconhecida. Com uma média de 1,3 milhão de cidadãos para cada carro, a espera para a remoção dos corpos chega a dez horas. Enquanto a população sofre com a demora, a corporação tem outros quatro carros parados.

O problema, de acordo com o chefe do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa, delegado Wagner Pinto, é que falta pessoal, já que a polícia conta apenas com quatro ‘rabequeiros’, os responsáveis por dirigir os veículos e remover os corpos.

O salário inicial do rabequeiro é de R$ 2.200 por 40 horas semanais de trabalho, e o último concurso para a categoria foi realizado em 2009.

Segundo o delegado da Polícia Civil e diretor jurídico do Sindicato dos Servidores da Polícia do Estado de Minas Gerais (Sindpol), Christiano Xavier, o Estado já autorizou a realização de uma nova seleção, com 300 vagas para investigador (cargo do rabequeiro), mas o edital do concurso ainda não foi publicado.

"Esse cenário (de falta de pessoal) não é de agora. A estrutura está só encolhendo. O quadro de efetivos
 é menor que na década de 1980, sendo que a criminalidade aumentou e até o efetivo da Polícia Militar
cresceu", afirmou Xavier.

Ainda de acordo com o sindicalista, o índice de pedidos de exoneração na corporação como um todo é alto. "O principal motivo da desistência é a sobrecarga de trabalho. Há muitas licenças médicas e psiquiátricas. Aproximadamente 20% do efetivo da Polícia Civil está afastado por causa dessas licenças", completou Xavier.

Na reserva. Segundo Wagner Pinto, mesmo sem um profissional para operar, os veículos extras são necessários porque os rabecões precisam de manutenções frequentes.

"Ficamos mais de uma década contando apenas com três carros. Desde julho do ano passado,
começamos
 a contar com quatro. E os outros quatro rabecões ficam na reserva porque os que rodam têm
 um desgaste
 natural muito grande por causa do estado dos locais onde transitam", justificou o delegado.

Cada rabecão remove 12 corpos diariamente, em média, e roda aproximadamente 200 km
 todos os dias
. Wagner Pinto informou que a previsão da Polícia Civil é adquirir, no máximo em julho
 deste ano, outros
 45 veículos para o Estado.
"Esperamos que 15 deles venham para a capital e para a região metropolitana", afirmou
 o delegado.
Uma polícia prejudica a outra, sugere delegado
As muitas ocorrências de homicídios servem como explicação para a demora na chegada
do rabecão onde
 foi solicitado o serviço. Apenas no primeiro fim de semana de maio, foram nove
 assassinatos em
 Belo Horizonte e na região metropolitana, segundo dados da Polícia Militar.

Prioridades. O aumento na criminalidade não é a única justificativa para a demora
 no serviço.
 Um delegado que atua em uma cidade da região metropolitana e pediu para não
ser identificado
 afirmou que, muitas vezes, "a Polícia Militar, primeira a ser acionada em casos
de homicídio,
 chega ao local rapidamente, mas demora a acionar a Polícia Civil porque quer
 prender o responsável
 pelo crime primeiro e finalizar o próprio trabalho". (CG)
REALIDADE
Morador sofre com lentidão
Enquanto as melhorias não chegam, a população sofre com a falta de
 estrutura. A família de Roberto* é um exemplo. Aos 46 anos, o aposentado

 morreu em casa, em Matozinhos, na região metropolitana. O corpo foi
descoberto no fim da manhã do último dia 5, quando seu irmão Pedro*
foi até o local. Os dois iriam juntos para a festa de 15 anos da sobrinha.

Depois de chamar e não ser atendido, Pedro resolveu pular o muro.
Ao se aproximar de uma das janelas, viu moscas e sentiu um forte mau cheiro.
 Ele arrombou a porta e encontrou o irmão morto, na cama. O empresário
conta que os policiais militares chegaram e chamaram a perícia e o rabecão.
O perito demorou uma hora e 30 minutos para chegar. Já o rabecão apareceu
 quase dez horas depois de ser acionado, às 22h30.
 "A gente só descobre que demora tanto quando precisamos dele", desabafa
o irmão da vítima.

Em outro caso, em Nova Lima, na região metropolitana, o ciclista Ricardo*,
40, morreu depois de bater em um poste. Mesmo com o corpo exposto na
 rua, que seria prioridade da Polícia Civil, a espera pelo rabecão foi de quatro horas.

Outro lado. O delegado Wagner Pinto afirmou que cada caso tem sua
 particularidade. "Eu escalo o serviço dentro dos recursos humanos e
das condições que me são oferecidas. O atendimento depende da
demanda e da distância a ser deslocada pelo rabecão", disse.(CG)

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