Claudio Freitas Utsch
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Certa feita, em dezembro de 1987, ouvi o saudoso Inspetor GUARACI JOSÉ MACHADO proferir belas e emocionadas palavras de despedida no sepultamento do Investigador TADEU EUGÊNIO MACISSINI, morto a tiros por assaltantes defronte uma agência bancária, localizada na Av. Álvares Cabral, dizendo que o" destino do policial fora cruel, pois vivera miseravelmente e morrera desgraçadamente!"
Ao acompanhar o velório e sepultamento do Investigador WELLINGTON WILLIAM DE OLIVEIRA, o popular "TORRESMO", assassinado na madrugada de 31 último, voltei ao passado e rememorei a fala do Inspetor GUARACI, trazendo-a para consolar a família do amigo morto.
"Torresmo" não morreu em ação, no trabalho. Baleado, ele foi a óbito em uma boca, situada no que restou da favela São José, região noroeste de BH. Sabem por quê? Porque era viciado em crack, e o desespero na procura da droga o levou até aquele local para "pagar um esculacho" e conseguir aquilo que o escravizava há anos: o crack! Mesmo sabendo que era policial, os bandidos o assassinaram e roubaram sua arma. Conheci "Torresmo" em 1993, quando fui trabalhar no 4º Distrito, à época localizado na rua Arceburgo, 373, bairro Bonfim.
Ele trabalhou por 2 anos na minha equipe e NÃO ERA USUÁRIO DE DROGAS. Depois, em 2001/02, já delegado de polícia, o tive em meu setor, na extinta Delegacia Especializada de Furtos e Roubos, o temido KILO (pelos bandidos). Nesta época ele já era usuário de cocaína, vicio adquirido quando trabalhou na Divisão de Tóxicos e Entorpecentes, hoje Departamento Antidrogas. Infelizmente não são raros os casos de servidores policiais que acabam seduzidos pelo brilho das drogas, e "Torresmo" foi somente mais um.
Da cocaína para o crack foi um passo, e a partir dai quase virou mendigo, ademais fazia qualquer coisa para satisfazer o vício, antes de tudo UMA DOENÇA (como tem sido visto e tratado pelo governo federal e justiça). A despeito desta nova visão para com os viciados, a corporação a qual pertenceu, continuou na vanguarda do atraso, como diria o grande escritor Roberto Drumond! O trataram como um criminoso!
Segundo informações, o saco maldades, que a "priori" deveria ser a CASA DO DIREITO E JUSTIÇA DA CORPORAÇÃO, corrigindo, fiscalizando, orientando, controlando internamente a corporação, aplicando as leis e sobretudo RESPEITANDO OS SERES HUMANOS (não policiais e mormente os policiais), ao invés de sugerir ao setor próprio da área de recursos humanos o seu encaminhamento a tratamentos médicos para recuperação, estava preparando para demiti-lo.
"Torresmo" foi vítima duas vezes: DAS BALAS ASSASSINAS QUE CEIFARAM SUA VIDA, mas antes o foi da própria corporação a qual pertenceu, que o violentou e abandonou! Tornou-se um viciado em virtude do sistema anacrônico e injusto que ai está, pelas péssimas condições de trabalho, e por inúmeros outros motivos que levam outros policiais a situações análogas, conquanto na SEDE EM PUNIR, PERSEGUIR, DESTRUIR que impera naquela casa que deveria ser da justiça interna! Vale lembrar que a solidariedade, compreensão, fraternidade e piedade são sentimentos cristãos que deveriam norterar as vidas de todos, inclusive de quem tem o poder nas mãos! Presentes no lugar de corações de pedra, este infeliz poderia ter tido um destino menos triste!
Ao invés de um PA para demissão, por quê não um encaminhamento a tratamento psiquiátrico/psicológico? As mãos que hoje prejudicam, um dia enxugarão as lágrimas de sofrimentos, que sempre são derramadas por entes queridos, pois DEUS, não sua imensa sabedoria, sabe a hora e como cobrar, e quase sempre o faz em pessoas próximas e queridas, para que o sofrimento de que fez sofrer seja ainda maior!
Seu sepultamento foi acompanhado por menos de 50 policiais. Somente um delegado presente, que ali estava não na condição de autoridade policial, mas de amigo, DE SER HUMANO SOFRENDO COM O SOFRIMENTO DE UMA FAMÍLIA ENLUTADA!
Nenhum dos seus ex-chefes! Quase nenhum dos seus antigos colegas! Nenhum dos chefes atuais!
Por isto, ao ouvir o pranto da filha e da mãe de "Torresmo", que cortou e dilacerou meu coração, me lembrei dos dizeres do grande e saudoso INSPETOR GUARACI JOSÉ MACHADO, que ora reproduzo com meus sentimentos de dor, revolta e solidariedade ao sofrimento da família:
"O DESTINO FOI CRUEL PARA WELLINGTON WILLIAM DE OLIVEIRA, QUE VIVEU TÃO MISERAVELMENTE, E MORREU TÃO DESGRAÇADAMENTE!"
Vai em paz, amigo!
Eternas saudades, e até um dia!
Meu nome é Márcio Machado filho do falecido e inesquecível GUARACY JOSÉ MACHADO,muito obrigado por lembrar das palavras do meu pai que sempre usava das palavras com muita sabedoria e emoção,que Deus o tenha,de novo muito obrigado.
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