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adulteração de cena do crime na favela rola
Vídeo mostra policiais carregam corpo de vítima para outro local

A chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro, delegada Martha Rocha, transferiu para a Corregedoria Interna da Polícia Civil a investigação de alteração do cenário do confronto em operação policial feita no ano passado pela Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) na Favela do Rola, na zona oeste da capital.
Um vídeo filmado pelos próprios agentes e divulgado no sábado (11) pelo jornal Extra mostra policiais alterando a localização de corpos na cena do confronto, que terminou com cinco mortos. Caberá à corregedoria a decisão de afastar ou não os policiais envolvidos na operação durante as investigações.
 
A investigação estava em curso na 36ª Delegacia de Polícia, em Santa Cruz, bairro onde está localizada a comunidade. A Polícia Civil também instaurou sindicância disciplinar na corregedoria para verificar se houve o cumprimento da Portaria 553/2011, que regulamenta o auto de resistência.
 
A operação foi feita no dia 16 de agosto de 2012 e buscava o suspeito de tráfico conhecido como DG, motivada por dados reunidos pelo serviço de inteligência da polícia, inclusive por meio de denúncias anônimas. Segundo informações da Polícia Civil, os cinco mortos eram maiores de idade e atiraram contra os agentes. Três tinham passagem pela polícia.
 
No vídeo, no entanto, policiais dizem que um dos mortos estava desarmado e carregam seu corpo para o local onde estavam cadáveres armados. Os agentes também dizem que vão "socorrer" os suspeitos, apesar de terem reconhecido, pouco antes, na filmagem, que estavam mortos.
 
A Polícia Civil alega que os policiais socorreram os feridos levando-os para os hospitais próximos e acionaram a perícia de forma devida. Quatro pessoas foram presas e a operação apreendeu quatro fuzis, uma espingarda calibre 12, duas pistolas, quatro carregadores, 67 cartuchos, nove quilos de cocaína, 62,9 gramas de crack, 334 gramas de maconha, 42 frascos de solvente e R$ 981 em espécie.


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A ministra Maria do Rosário criticou a operação e exigiu apuração
A ministra Maria do Rosário criticou a operação e exigiu apuração Foto: Eliária Andrade / Arquivo
Guilherme Amado
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Após assistir às imagens reveladas ontem pelo EXTRA, a ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Maria do Rosário Nunes, afirmou que vai cobrar explicações do governo do Rio sobre a operação na Favela do Rola, em Santa Cruz. A ministra afirmou que não existe ali nada que possa ser chamado de auto de resistência, forma como as mortes foram registradas pela Polícia Civil:
— São imagens muito fortes, demonstram que não existiu nenhuma situação que possa ser caracterizada como auto de resistência. O objetivo da polícia deve ser localizar e deter o criminoso. Jamais perseguir e matar.
A partir de amanhã, segundo ela, o caso passará a ser acompanhado de perto pela Secretaria. Maria do Rosário preside o Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, vinculado ao ministério, e composto por autoridades e especialistas em Direito Constitucional e Criminal.
— Vou solicitar ao governo do Rio explicações sobre isso. Que prática é essa de sobrevoar comunidade atirando? Que tipo de prática é essa de modificar uma cena de morte? Uma série de coisas impressionantes em termos de violações de Direitos Humanos — lamentou.
Maria do Rosário criticou o uso de armas que coloquem a população em risco.
— O vídeo indica, o que é muito grave, uma iniciativa para desconstituir a cena toda e, portanto, impedir uma perícia isenta de atuar. A polícia deve ser o lado bom. Uma abordagem desse tipo, sinceramente, atirar de um helicóptero sobre as casas, e modificar as cenas de morte daquelas pessoas, tudo isso é contra lei — criticou.
A ministra lamentou a forma como os corpos são carregados e a atitude dos policiais diante das mortes:
— Eu achei muito chocante a forma como carregam os corpos. Os comandos das polícias devem estar preocupados em humanizar a atuação policial, deve estar preocupado no que sente e como fica o policial após uma operação dessa. Não é saudável alguém comemorar uma morte. Isso produz adoecimentos que podem gerar pessoas que perdem a noção do que é violência e de seu papel, que é proteger a vida.


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