Delegado Geraldo Toledo voltou a afirmar que não foi o autor dos disparos contra a jovem. Delegada que investiga o caso diz que policial tentou atrapalhar as investigações
Publicação: 09/05/2013 16:25 Atualização: 09/05/2013 20:04
Adolescente segue internada no Hospital João XXIII, em Belo Horizonte |
Detalhes sobre o relacionamento entre o delegado Geraldo do Amaral Toledo Neto e a adolescente de 17 anos, A.L, que segue internada no Hospital João XXIII após levar um tiro na cabeça, foram contados por ele em carta enviada nesta quinta-feira à Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). No documento, o policial, que está preso suspeito do crime, diz que a jovem vivia em atritos familiares e que havia mencionado a hipótese de suicídio.
Toledo contou que conheceu a adolescente em agosto de 2010, quando a família dela se mudou para o mesmo prédio onde ele morava. “Sabendo que sou professor, a mãe dela solicitou que eu orientasse A.L., que estava escrevendo um livro, o que selou um forte vinculo entre todos nós", relatou. No ano seguinte, o delegado se mudou do imóvel, porém, a amizade entre eles se manteve.
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Segundo o delegado, a adolescente teria ficado com ciúmes dele, já que não deixou de sair e viajar com os amigos mesmo com o relacionamento, e simulou uma gravidez. Toledo afirma que deu total apoio a ela, pois "era um sonho antigo ter mais um filho", inclusive a colocando como dependente de seu plano de saúde.
Porém, desconfiado, insistiu que a garota fizesse exames, que comprovaram a farsa, segundo o delegado. Os dois tiveram um desentendimento, já que o policial não quis dar abrigo à jovem, já que estava saindo de férias, e a garota teria simulado uma agressão. "Ciente disso e inconformada, simulou ter sido agredida e se dirigiu até uma delegacia solicitando minha prisão e o impedimento de minha viagem", conta Toledo. Em seguida, a adolescente, segundo versão do policial, "confessou a mentira" e solicitou a desistência do processo criminal. A jovem foi para Conselheiro Lafaiete, mas a amizade deles continuou.
Toledo fez questão de informar que estava preocupado com a adolescente, já que ela estava em "estado depressivo". Ele conta que no mês anterior ao desentendimento, ela havia furtado uma arma dele e dito que iria suicidar. Mas, foi acalmada por Geraldo.
Passeio em Ouro PretoGeraldo Toledo continou com a versão de que a adolescente cometeu suicídio. Segundo o delegado, no dia em que a garota foi baleada, os dois passaram a tarde juntos, pois ela queria "reviver sua infância na casa dos parentes".
Segundo relata o policial, quando os dois estavam na estrada que liga Lavras Novas a Ouro Preto, a jovem teria entrado em desespero e pedido para morar com o delegado. "Tentei consolá-la e convencê-la de enfrentar tal situação. Ela se desesperou mais e começou a me agredir e tirou a chave do contato do carro. Saí do veiculo, na estrada, dizendo que iria embora. Em berros ela pedia para eu voltar. Quando olhei para trás, ela retirou da bolsa uma pequena arma e disparou contra si mesmo, na cabeça", conta Toledo.
O delegado afirma que ficou atordoado e a levou para o hospital. Por causa de seu estado de choque, não teria conseguido encontrar a delegacia de Ouro Preto. Porém, diz que logo comunicou os seus superiores, as famílias dele e da garota, e uma advogada. "Durante nossa discussão na estrada, e a retirada da chave do veículo, acionei a delegacia de Ouro Preto, me identificando, o que demonstra que nada foi premeditado", explica.
O delegado usou três pontos para tentar provar que não foi o autor dos disparos que acertou a cabeça da jovem. " A perícia detectou que a arma que eu carregava no posto de gasolina era um revólver 38 e não a arma que ela usou contra si mesmo. Se eu realmente quisesse matá-la, eu não a levaria para o hospital. Além disso, usaria a arma que trazia, um 38, que tem um poder de lesividade e de destruição maior", disse. Também ressalta que a tomografia feita na jovem detectou que os ferimentos provocados pela bala seriam compatíveis com o suicídio de uma pessoa destra.
Sobre os exames residuográficos feitos nas mãos da adolescente que não encontraram nenhum vestígio de pólvora, Toledo diz que o laudo foi feito no dia seguinte aos fatos, o que o "torna inidonio". Por fim, diz que não havia nenhum motivo para desejar a morte de A.l. "Eu era o seu melhor amigo, o seu padrinho, professor e desejava um enorme futuro".
Delegado participou da reconstituição do crime, onde manteve a versão de suicídio |
Passado complica delegado Na audiência pública, presidida pelo presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, deputado Durval Ângelo (PT), a delegada que investiga o caso, Águeda Bueno do Nascimento e o corregedor-geral da Polícia Civil de Minas, Renato Patrício Teixeira, deram detalhes do inquérito. Teixeira apontou histórico da conduta complicada de Toledo. Segundo o corregedor, o policial é investigado em 10 inquéritos, nove sindicâncias e dois processos administrativos.
De acordo com a Águeda Bueno, a cronologia dos fatos levantada pela investigação mostra que Toledo, com a consciência de policial, tentou atrapalhar ao máximo o trabalho da corporação. Ela apontou três fatos que comprovam a tentativa de desviar atenções dos investigadores para provas do crime. No dia do tiro, Toledo ligou para o 190 da PM pedindo o telefone da delegacia de Ouro Preto. Em contato com os colegas da unidade policial, ele pediu apoio e logo depois desistiu da ajuda dizendo que já havia resolvido a situação. Como segundo fator, a delegada apontou o fato de Toledo ter abandonado a jovem no hospital sem documentos ou identificação. Por último, a delegada disse que a arma do crime nunca apareceu e que para dificultar a cronologia, Toledo abandonou o carro na casa de um amigo.
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