Publicado no Jornal OTEMPO em 10/12/2012
Crack se espalha e já está presente em pelo menos 69% dos locais estudados
Se combater o uso de drogas não é tarefa fácil para a capital mineira, é
um verdadeiro desafio para as cidades do interior do Estado. Segundo
levantamento feito pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM), em
Minas Gerais, 734 municípios - 91% dos 805 pesquisados - enfrentam
problemas com circulação de entorpecentes em seu território.
O
crack está presente em 555 cidades, ou 69%, tornando Minas o Estado
campeão no uso desse entorpecente, seguido por São Paulo, onde o
problema ocorre em 486 cidades. Dos 853 municípios mineiros, 805
responderam ao questionário da pesquisa, divulgada neste semestre.
Enquanto
as drogas se espalham nas cidades mineiras, apenas 43,6% dos municípios
pesquisados disseram possuir programas de enfrentamento do crack e
20,3% possuem Conselhos Municipais Antidrogas (Comad). Os dois programas
considerados essenciais no combate aos entorpecentes, o Centro de
Assistência Psicossocial (Caps) e o Centro de Referência Especializado
da Assistência Social (Creas), estão presentes em 6,8% e 10,8% das
cidades, respectivamente.
Para
o presidente da Organização Não Governamental (ONG) SOS Drogas, Robert
William, os municípios têm que criar o Comad. "O conselho precisa
existir e ser operante para fazer as políticas antidrogas e articular as
ações com toda a rede estadual", afirma.
São
inúmeras as famílias do interior do Estado que procuram a ONG pedindo
ajuda porque não conseguem auxílio das prefeituras. É o caso da
aposentada Conceição Gomes, 73, de São João Evangelista, no Vale do Rio
Doce, que convive há 30 anos com um filho viciado em crack. "Nunca tive
ajuda de ninguém na cidade. Gastei todo o meu dinheiro pagando clínicas
para ele. Agora, minha filha viu que eu estava sofrendo muito e o levou
para São Paulo", desabafa.
Com
mais de 200 mil habitantes, Divinópolis, no Centro-Oeste de Minas, tem
programas de enfrentamento limitados. Atualmente, a cidade não recebe
nenhum recurso específico. Uma mulher grávida usuária de drogas, por
exemplo, não terá tratamento especializado e deverá ser atendida pela
rede de saúde pública como uma paciente comum. "Faltam recursos para
investir em políticas de combate", afirma o secretário de
Desenvolvimento Social do município, Paulo Sérgio dos Prazeres.
DIFICULDADE. Na avaliação do subsecretário de Política
sobre Drogas de Minas, Cloves Benevides, o fenômeno do crack se
apresenta como um desafio para os municípios. "Todo o Estado tem
necessidade de expansão dos serviços, mas temos um olhar mais
estratégico sobre a região metropolitana, que concentra maior parte da
população mineira", destaca.
Minas
é o Estado que receberá o segundo maior recurso federal até 2014 para
enfrentamento ao crack. São R$147 milhões até o próximo ano, perdendo
apenas para o Rio de Janeiro, que terá R$ 246 milhões. De acordo com
Benevides, o Estado enviará, ainda, um recurso de R$ 48 milhões às
cidades mineiras para expansão da rede de atenção psicossocial. O
governador Antonio Anastasia afirmou que o combate ao crack será
prioridade máxima do Estado no próximo ano.
CONSEQUÊNCIA
Entorpecente gera violência
Junto com
o aumento do uso de drogas nos municípios, vem o crescimento da
violência. Em Divinópolis, o número de homicídios cresceu 42,3% neste
ano na comparação com o ano passado. Até novembro, foram 37
assassinatos, contra 26 no mesmo período de 2011. Segundo o secretário
de Desenvolvimento Social da cidade, Paulo Sérgio dos Prazeres, 90% dos
crimes estão ligados ao tráfico de drogas. "Convivemos com uma
cracolândia e um alto nível de consumo".
Para
o sociólogo especialista em segurança pública Robson Sávio, as cidades
precisam fazer um diagnóstico dos seus usuários e traçar um plano de
ação que contemple a saúde e a segurança. "Hoje, a droga lícita ou a
ilícita fazem parte da cultura do país. O problema é quando ela vem
associada ao crime praticado por traficantes e usuários", destaca.
O
tenente da Polícia Militar de Lagoa da Prata, na região Central de
Minas, Paulo Alexandre Cabral também afirma que a maioria dos crimes na
cidade está ligada às drogas. "Temos muito problema com usuários e
comércio intenso", diz. A cidade não possui Conselho Municipal
Antidrogas (Comad) nem programa específico de combate ao crack. O setor
da saúde é também afetado pelo uso de drogas, de acordo com a pesquisa.
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