No final de novembro o Governo
do Estado anunciou com toda pompa que teria feito convênio com Universidades e
escolas técnicas para a promoção de cursos superiores gratuitos aos
detentos que cumprem penas nas penitenciárias de Minas Gerais. Na segunda-feira
mais uma bondade do governo aos criminosos foi anunciada: o poder público também
pagará dois salários mínimos para empresas contratarem detentos para trabalhar.
Quando se trata de políticas sociais
voltadas para o trabalhador, o que se percebe é a omissão de um governo. Mesmo
em relação ao sistema carcerário, o abandono oficial da classe honesta e trabalhadora
é latente.
Área de convivência que será destinada aos criminosos de Minas Gerais |
Para abrigar criminosos comuns,
brevemente será inaugurado em Ribeirão das Neves um luxuoso empreendimento
carcerário em parceria com a iniciativa privada. O local que contatará com celas
individuais dotadas de equipamentos em aço inox, quadras de esportes, piscinas,
modernas áreas de banho de sol entre tantas outras regalias, está sendo
executado por uma empreiteira que constrói hotéis.
O hotel de bandidos terá luxuosas quadras de esportes bibliotecas, salas de cinema entre outras regalias. |
"Na PPP prisional, todo o serviço prestado aos presos, como assistência médica, odontológica, jurídica, segurança interna, alimentação e uniformes, fica à cargo do parceiro privado..."explica o coordenador da unidade setorial de PPP da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds), Marcelo Costa.
Assim será o aposento dos criminosos que lesaram a sociedade. |
Já para abrigar trabalhadores que cumprem
sentença por débito com pensão alimentícia, a situação é grave. Nos presídios
de Minas Gerais, cidadãos estão sendo enjaulados junto com criminosos comuns.
No ano passado, um homem que devia pensão alimentícia foi encarcerado numa cela
do Ceresp Gameleira junto com criminosos onde acabou sendo espancado e abusado
sexualmente. Ao ser “socorrido” e colocado em cela separada, o trabalhador
suicidou. Este episódio é apenas um dos muitos casos de covardias praticadas
pelo Governo do Estado contra o trabalhador.
Enquanto o Governo do Estado
promove benesses, regalias e constrói hotéis Vips para bandidos perigosos que lesam
a sociedade, hoje o jornal Estado de Minas divulgou uma grande reportagem sobre
as covardias que acontecem nas masmorras do sistema penitenciário Mineiro,
destinadas a abrigar o cidadão que deve pensão alimentícia. Veja abaixo os
absurdos narrados na reportagem do Estado de Minas.
Ex-detento vira porta-voz de pais presos em BH por não pagar benefícios a filhosEm cartas, eles denunciam condições da prisão e reclamam de ser tratados como delinquentes perigosos
Publicação: 12/12/2012 06:00 Atualização: 12/12/2012 06:49
Confinados em um espaço projetado para 50
pessoas, 108 homens se espremem passando as noites intercalados em
colchões estendidos no chão de concreto. No ambiente escuro e úmido,
ficam durante os dias sem acesso a livros ou atividades ao ar livre,
tendo de beber a água sem filtrar em uma torneira e de tomar banhos
gelados. O cotidiano se completa com ameaças e castigos de agentes de
segurança. A descrição feita por internos lembra os piores cadeiões
brasileiros. Mas, nesse caso, os detentos não são criminosos comuns: são
pais de família, trabalhadores, e entre eles há até um engenheiro
inglês, de 68 anos, que não consegue sequer se comunicar com os agentes.
Todos foram presos por dívida de pensão alimentícia com os filhos. Os
relatos que descrevem como é o dia a dia desses homens constam de várias
cartas, que o representante comercial Robson dos Anjos Bastos, de 51
anos, trouxe consigo ao ser libertado no mês passado. Com o objetivo de
cobrar melhorias do poder público, elas mostram que a ala reservada aos
devedores de pensão no Centro de Remanejamento Prisional (Ceresp) da
Gameleira, na Região Oeste de BH, em pouco difere das acomodações
destinadas a delinquentes perigosos.
Robson
diz ter deixado de pagar pensão aos cinco filhos depois que a ex-mulher
se mudou do país com as crianças, sem a autorização dele, e se
estabeleceu em endereço desconhecido, em Portugal. “Meus advogados
aconselharam que me apresentasse na delegacia voluntariamente, para não
ser detido em uma blitz ou acidente”, conta o representante comercial. A
esperança de ter tratamento diferente do que de um criminoso de alta
periculosidade, principalmente por ter direito a uma ala separada, se
dissipou logo que encontrou o delegado. “Eles me algemaram e me atiraram
em um camburão. Quando a gente entra na ala separada do Ceresp e vê
todo mundo de uniforme vermelho, deitado pelo chão e em péssimas
condições, leva um baque, porque lembra um campo de concentração. Nos
sentimos marginais, mas somos gente comum”, disse
Na
chamada “Ala W”, reservada aos devedores de pensão, os detentos contam
que alguns agentes os tratam de forma abusiva. “Tinha um professor da
Universidade Federal de Viçosa (UFV) que estava triste, com saudades do
pai. Resolveu cantar uma música do Roberto Carlos e os agentes
penitenciários não gostaram”, lembra. Robson conta que dois agentes
subiram para a carceragem muito alterados, sem as identificações nos
uniformes, procurando o cantor. Como ninguém quis delatar o professor,
os responsáveis pelo manejo de presos borrifaram spray de pimenta na
cela e ameaçaram trazer cães da próxima vez. “Foi um pânico só. Imagine
mais de 50 homens se espremendo no banheiro para molhar toalhas e panos
para cobrir o rosto. Muita gente vomitou, passou mal. O spray age por 30
minutos. Nunca na minha vida imaginei que sentiria um spray de pimenta
na minha cara. É degradante”, critica.
A
mesma sensação está retratada na carta de três páginas escrita em
inglês pelo engenheiro aposentado da Real Marinha Britânica Robert
Sidney King, que mostra a perplexidade do britânico com a falta de
condições da prisão. “Aqui estou, aos meus 68 anos, sentado em uma
prisão de Belo Horizonte. Um lugar de tédio absoluto, onde livros não
são permitidos ou qualquer outra atividade para se passar o tempo.
Comemos, conversamos e dormimos”, inicia a correspondência. “Como
cheguei aqui? Roubando um banco ou atacando alguém? Não, foi ao
comparecer a uma audiência de renegociação de pensão para meu filho. Uma
audiência que tentei marcar por três anos e a qual a mãe do meu filho
fez de tudo para postergar e atrasar. Em vez de ser ouvido, descobri que
um juiz de São Paulo me sentenciou (à prisão por não pagamento de
pensão) sem sequer me ouvir.”
O
homem faz uma crítica ao Judiciário e às leis. “Como, em um país com
uma constituição, uma pessoa pode ser sentenciada à prisão sem ser
ouvida? Por cinco ou mais anos tentei audiências em cortes de São Paulo.
Minha mãe estava morrendo e não consegui autorização para levar meu
filho para vê-la. Ela morreu dois anos depois. Uma ação para visitas
temporárias (ao filho) aguarda sete anos sem ser julgada. Os juízes
parecem não querer trabalhar, a não ser quando é para mandar alguém para
a cadeia sem ouvi-lo.”
A
reportagem do Estado de Minas solicitou, mas não teve acesso à
carceragem do Ceresp. De acordo com a Secretaria de Estado de Defesa
Social (Seds), a visita não é autorizada porque a instituição não
consegue garantir a segurança.
o que diz a lei
Quem deve pensão alimentícia tem três
dias, depois de citado, para pagar, provar pagamento ou justificar a
impossibilidade de fazê-lo, de acordo com o Código de Processo Civil. Se
isso não ocorrer o juiz pode decretar prisão de um a três meses, que
pode ser interrompida pelo pagamento do débito. O Código Penal define
que deixar de prover a subsistência do cônjuge ou de filho menor de 18
anos ou inapto para o trabalho tem pena de detenção de um a quatro anos e
multa de um a 10 salários mínimos. A Lei 5.478, de 1968, determina que o
cumprimento da pena de prisão não determina extinção da dívida, podendo
o juiz determinar penhora de bens e até pagamento por parte dos avós.
Enquanto isso...
…UNIDADE ESPECIAL AGUARDA IMÓVEL
A Subsecretaria de Administração
Prisional (Suapi) ainda procura um local que atenda às necessidades do
projeto de construir o Centro de Referência para Devedores de Alimentos,
com cerca de 100 vagas só para esse tipo de infrator. Os números
crescem a cada dia. Em dezembro de 2010 eram 179 presos no sistema
estadual por esse motivo. No mesmo período do ano passado, o número
cresceu 11%, chegando a 199 pais e responsáveis detidos por não
pagamento do benefício. A quantidade disparou, chegando a um crescimento
de 33% em fevereiro deste ano, quando alcançou 238 internos, e hoje se
mantêm em 208. Como a prisão é de 30 a 90 dias, a quantidade de detidos
muda mensalmente.
Da dívida até o xadrez
Os passos da prisão por não pagamento de pensão
Uma
ação de pensão alimentícia é aberta na Justiça para estabelecer com
quanto o responsável deve contribuir mensalmente para o sustento do
dependente
Se o pagamento atrasa, uma ação de execução alimentícia pode ser aberta para cobrar o benefício
O juiz cita o responsável, que recebe intimação de um oficial de Justiça para comparecer ao fórum em até três dias
Lá, o devedor deve justificar de forma satisfatória o não pagamento, comprovar que está em dia ou quitar o que é devido
Nos casos em que o devedor não se
justifica, o juiz determina a prisão por prazo de 30 a 90 dias, segundo o
Código de Processo Civil
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