Especialistas acreditam que a falta de investimento e a concentração de recursos em locais equivocados estão entre os motivos do crescimento do crime no estado, apontado pelo Mapa da Violência 2013. Minas Gerais foi o único estado do sudeste brasileiro a apontar crescimento no múmero de assassinatos, num período de dez anos.
Enquanto
alguns importantes estados do sudeste brasileiro comemoram a redução de
homicídios, Minas Gerais segue na contramão com o aumento do crime,
segundo Mapa da Violência 2013: Homicídio e Juventude no Brasil,
publicado na última semana. A Região Sudeste foi a única do país que
apresentou queda no número de assassinatos e os principais estados
responsáveis por essa boa notícia são Rio de Janeiro e São Paulo, que
diminuíram cerca de um terço das mortes em dez anos. Já em Minas Gerais,
os homicídios aumentaram 80% no mesmo período.
Belo Horizonte
também aparece como a capital com maior índice de homicídios, na Região
Sudeste. Entre 2001 e 2010, a capital mineira teve aumento de 21% no
número de mortes, passando de 791 para 961. As outras capitais da
região, Rio de Janeiro, São Paulo e Vitória apresentaram queda no número
de homicídios. Outras quatro cidades de Minas Gerais também ganharam
destaque no estudo, ocupando lugares no ranking das 100 cidades
brasileiras com maiores taxas de homicídio. São Joaquim de Bicas está em
54º lugar, seguida de Aimorés, em 55º, Esmeraldas, em 59º e Betim, em
69º.
Para Denílson Martins, que é Presidente do Sindicato dos
Policiais Civis de Minas Gerais (SINDPOL/MG), especialista em
Criminologia e Conselheiro Nacional de Segurança Pública do Ministério
da Justiça, a base do problema está no modelo das políticas de segurança
pública do estado, que não exploram as motivações dos crimes. Além
disso, ele também critica a falta de investimento na polícia judiciária.
“Minas Gerais não investe quase nada em repressão qualificada, que são
as ações de investigação. São apenas 600 peritos para o estado inteiro.
Se os delitos não são apurados aumenta os delinquentes contumazes, que
são aqueles que já têm o crime como profissão”, afirma.
Ele
destaca que entre as principais origens da violência está o tráfico de
drogas, que influência crimes que vão desde o roubo até assassinatos.
Também cita a violência doméstica, como um crime ainda pouco combatido
no estado e que continua acontecendo porque os agressores contam com a
impunidade. “A violência à mulher normalmente começa com uma lesão
corporal e termina com morte. Se a investigação e a punição para o crime
viessem mais rápido, desestimularia a segunda agressão”, afirma.
O Presidente do SINDPOL/MG também destaca a falta de investimento nas
delegacias como outro motivador do aumento da violência no estado. Ele
afirma que em algumas cidades do interior de Minas, corpos de vítimas de
crimes são enterradas em covas rasas para, meses depois, serem exumados
e passarem por perícia, já que não há profissionais suficientes para
atender à demanda. Segundo ele, Minas Gerais conta com 50 mil policiais
militares e nove mil policiais civis. Enquanto isso, em São Paulo, são
120 mil PMs e 40 mil policiais civis. “É muito desproporcional e é por
isso também que o crime aumentou mais aqui”, frisa.
Investimento equivocado
O professor da PUC Minas e especialista em criminalidade e segurança
pública, Robson Sávio Reis Souza, afirma que o aumento dos homicídios em
Minas Gerais tem origem numa política equivocada de investimento na
segurança pública. Ele explica que, desde 2003, durante o mandato de
Aécio Neves no Governo de Minas Gerais, o estado concentrou os gastos
nos salários e estrutura da Polícia Militar e no sistema prisional. “O
governo passou a direcionar os recursos para essa máquina onerosa,
ficando com um orçamento de mais de R$7 bilhões, inibindo novos
investimentos”, explica.
A situação ficou ainda pior no governo
atual, de acordo com a análise do professor. Isso porque, além do
investimento exagerado no policiamento militar e nos presídios, o
governador Antonio Anastasia não continuou com os projetos de integração
das polícias e de prevenção à violência. “A diminuição da ação de
intergração e prevenção e a aposta nas medidas repressivas refletiu no
aumento das taxas de violência. O estado ficou incapaz de agir
proativamente, deixando o crime chegar até mesmo no interior”, conclui.
Governo responde
Por meio de nota, a Secretaria de Estado de Defesa Social de Minas
Gerais (Seds) destacou que, apesar do crescimento, Minas Gerais continua
com a 22ª posição do ranking nacional de mortes por homicídios.
Afirmou, ainda que os índices serão analisados por especialistas em
segurança pública, o que vai “nortear novos investimentos em segurança
pública para os próximos meses em Minas”.
A Seds também
afirmou que as polícias estão sendo equipadas com material humano e
equipamentos desde o início do ano e que, nos próximos meses, novas
viaturas serão adquiridas. A secretaria ainda garantiu que novos Centros
de Prevenção à Criminalidade serão criados.
Fonte: Portal Minas Livre
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