Nesta
terça-feira (24), uma mulher grávida foi agredida pelo marido após se
recusar a fazer sexo com ele, em Vespasiano, na região metropolitana de
Belo Horizonte. Na semana anterior, um homem matou a esposa, de 48 anos,
a facadas, na Zona da Mata, após descobrir que era traído. No mês
anterior, outra mulher morreu assassinada a facadas após ter dado um
tapa na cara de um homem durante uma briga.
As ocorrências são de indignar, mas
contrastam com a banalidade com que os crimes de violência contra a
mulher são cometidas. Só em Minas, aproximadamente 17 mulheres são
mortas por dia, segundo os dados divulgados nesta quarta-feira (25) pelo
Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea).
Ainda segundo a pesquisa, o Estado ficou em
segundo lugar no índice de mortes por este tipo de crime na região
Sudeste do país, perdendo apenas para o Espírito Santo. Os números, que
estão bem acima da média nacional, assustam e podem ainda ser bem
maiores.
Para Daniele Caldas, coordenadora do Centro
de Referência Bem Vinda, que atende mulheres em situação de violência,
boa parte dos casos ainda fica fora dessas estatísticas.
"Muitas vezes as ocorrências nem chegam a
ser registradas porque a vítima simplesmente não sabe o que pode
acontecer com ela ao denunciar seu agressor", destacou Caldas.
Ela destaca outra questão. "Outro problema é
que, até ano passado, não havia nenhuma especificação de crimes contra a
mulher nos boletins de ocorrência da capital mineira. Isso é
fundamental para contabilizar melhor essa situação", explica.
Segundo a delegada Margareth de Freitas,
responsável pela Delegacia de Crimes Contra a Mulher, ainda há muito
medo por parte das vítimas em expor a agressão, e o agressor. "São
vários o motivos que fazem com que essas mulheres optem por não
denunciar os parceiros, principalmente, o fator econômico. Muitas
mulheres, principalmente nas camadas sociais mais baixas, dependem
financeiramente do companheiro e nunca trabalharam fora e, por isso,
continuam sendo submetidas à violência, de forma silenciosa", diz.
Ainda segundo o estudo divulgado pelo Ipea, a
maioria das vítimas é de jovens e negras. De acordo com Daniela Caldas,
o motivo deste perfil é o fato de mulheres mais velhas, dificilmente,
denunciarem as agressões. O fato de elas não entrarem na pesquisa, no
entanto, não muda o fato de que as agressões acontecem em todas as
idades. "Casos envolvendo idosas são ainda mais raros em estudos como
esse do Ipea, já que essas mulheres foram todas criadas em uma sociedade
fundamentalmente machista. Elas não pedem ajuda", complementa a
militante da causa desde 2008. Daniele conta que a situação se complica
ainda mais no interior do estado. "Muitas cidades não contam nem com
delegacia, então falta de serviço especializado que possa atender ou
oferecer algum tipo de suporte para as vítimas fora de Belo Horizonte e
da região metropolitana", denuncia.
Dependência
Mas esse, apesar de ser o fator mais forte
para a propagação da violência doméstica, ainda não é o único. De
acordo com a advogada Maria Berenice Dias, vice-presidente do Instituto
Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM) e especialista no combate a
discriminação de gênero, a maioria das brasileiras desenvolve uma
dependência geral de seus parceiros, não só na parte financeira. "A aura
em torno da ideia de família só aumenta a dificuldade para elas
denunciarem atos maus tratos e romperem com relacionamentos frustrados",
esclarece.
"Depois que a Lei Maria da Penha passou a
valer em 2006 é difícil falar em desinformação. O homem sabe que pode
acabar preso se agredir uma mulher. Mas a vulnerabilidade delas ainda
existe. Leva, no mínimo, 48h para a polícia tomar alguma iniciativa após
a denúncia", complementa. A especialista conta que esse prazo legal
acaba deixando a vítima fragilizada. "Na maioria dos casos, essas
mulheres ainda convivem com a pessoa violenta e se tornam reféns do
medo. É uma tensão psicológica muito grande", avalia.
"O caso de casais com filhos é ainda mais
delicado, pois muitas vezes o agressor é afastado do lar ou a mulher que
se afasta com os filhos. Desde que fique comprovado que o homem não
seja violento com os filhos, a legislação não impede os direitos de
guarda", lembra a advogada. "Mesmo que o objetivo de muitas não seja o
divórcio em si, as mulheres devem ter consciência de que é preciso
denunciar as agressões no início, para estabelecer limites. É sempre
importante lembrar que a violência não da ré. Ela não diminui, só
aumenta, e o estresse pós-traumático pode ser muito pior", alerta.
A delegada Margareth de Freitas endossa o
alerta da especialista: "Já tive, aqui, um caso de uma mulher que
demorou 20 anos para fazer a denúncia. O que acontece, é que a vítima
acaba ficando presa em um círculo de violência, no qual, não consegue
mais sair. A primeira agressão ocorre, o agressor pede para que a mulher
não denuncie e promete nunca mais cometer o ato, ela aceita. Passado
algum tempo, ele volta a agredir a mulher e o círculo de violência está
formado. É preciso se reconhecer neste círculo e denunciar o agressor,
seja ele o namorado, companheiro ou marido, o mais rápido possível",
diz.
Feminicídio
Muita gente não sabe, mas há um nome
específico para quando a mulher, além de ser vítima da violência
doméstica, acaba morrendo em decorrência do crime. É o chamado
Feminicídio, caracterizado pelos conflitos de gênero, e ocorrem quando a
mulher é assassinada, geralmente, pelo parceiro ou ex-parceiro. Esse
tipo de crime costuma implicar situações de abuso, ameaças, intimidação e
violência sexual.
Onde denunciar
Em BH são vários os locais onde se pode
denunciar crimes de gênero. O principal órgão é a Delegacia
Especializada de Atendimento a Mulher (DEAM), que conta com um plantão
24h e equipes que se revezam para acolher vítimas de violência doméstica
e familiar, além de garantir os direitos daquelas que se encontram em
situação de risco. A DEAM oferece atendimento psicológico individual,
assistência social e representação de advogados.
Outra alternativa são os dois centros de
referência de atendimento à mulher, o Bem Vinda, no bairro Floresta, e o
Risoleta Neves, no Funcionários. Ambos oferecem orientações,
encaminhamento e acompanhamento. Em casos graves, a Casa Abrigo
Sempre-Viva também recebe filhos das vítimas menores de 18 anos.
Caso tenha presenciado algum ato de
violência contra a mulher e queira denunciar, o Núcleo de Atendimento às
Vítimas de Crimes Violentos de Minas Gerais (NAVCV) e o Centro de Apoio
às Vítimas de Violência Intra-familiar de Belo Horizonte (CAVIV)
oferecem atendimento conjunto com o DEAM. Sob sigilo completo, o disque
denúncia (180) e o disque Direitos Humanos (0800-311119) também oferecem
orientação sobre onde encontrar apoio.
ENDEREÇOS
Delegacia da Mulher (DEAM)
Rua Aimorés, 3005 - Barro Preto
Telefone (31) 3291-2931
Rua Aimorés, 3005 - Barro Preto
Telefone (31) 3291-2931
Centro de Referência Bem Vinda
Avenida do Contorno, 2231 - Floresta
Telefone (31) 3277-4379 / 3277-4380
Avenida do Contorno, 2231 - Floresta
Telefone (31) 3277-4379 / 3277-4380
Centro Risoleta Neves de Atendimento à Mulher
Rua Pernambuco, 1000 - Funcionários
Telefone (31) 3261-0696 / 3261-3236 / 3261-4421
Rua Pernambuco, 1000 - Funcionários
Telefone (31) 3261-0696 / 3261-3236 / 3261-4421
Núcleo de Atendimento às Vítimas de Crimes Violentos
Rua da Bahia, 1148 - sala 331 - Centro
Telefone (31) 3214-1897 / 3214-1898
Rua da Bahia, 1148 - sala 331 - Centro
Telefone (31) 3214-1897 / 3214-1898
Centro de Apoio às Vítimas de Violência Intra-familiar
Rua Espírito Santo, 505 - Centro
Telefone (31) 3277-9761
Rua Espírito Santo, 505 - Centro
Telefone (31) 3277-9761
Fonte: O Tempo
Nenhum comentário:
Postar um comentário
O espaço de comentários do blog são moderados. Não serão aceitas as seguintes mensagens:
Que violem qualquer norma vigente no Brasil, seja municipal, estadual ou federal;
Com conteúdo calunioso, difamatório, injurioso, racista, de incitação à violência ou a qualquer ilegalidade, ou que desrespeite a privacidade alheia;
Com conteúdo que possa ser interpretado como de caráter preconceituoso ou discriminatório a pessoa ou grupo de pessoas; acusações sem provas, citando nomes de pessoas, se deseja fazer algum tipo de denúncia envie por e-mail que vamos averiguar a veracidade das denúncias, sendo esta verdadeira e de interesse coletivo será divulgada, resguardando a fonte.
Com linguagem grosseira, obscena e/ou pornográfica;
De cunho comercial e/ou pertencentes a correntes ou pirâmides de qualquer espécie; Que caracterizem prática de spam;
Fora do contexto do blog.
O Blog do Experidião:
Não se responsabiliza pelos comentários dos freqüentadores do blog;
Se reserva o direito de, a qualquer tempo e a seu exclusivo critério, retirar qualquer mensagem que possa ser interpretada contrária a estas regras ou às normas legais em vigor;
Não se responsabiliza por qualquer dano supostamente decorrente do uso deste serviço perante usuários ou quaisquer terceiros;
Se reserva o direito de modificar as regras acima a qualquer momento, a seu exclusivo critério.